Festival Escolar de Cinema
A tarde da última quinta-feira estava ensolarada e amena na Capital, mas, no centro da cidade, mais de uma centena de crianças não cogitava arredar o pé para brincar fora da sala pouco iluminada e sem janelas que ocupava.
- Queridos, não se assustem, mas tudo vai ficar bem escuro agora - anunciou Maria Angélica dos Santos, coordenadora de produção do 7º Festival Escolar de Cinema, prestes a apagar a luz para mais uma sessão com alunos de até seis anos da rede pública de ensino na sala Redenção (Campus Centro da UFRGS).
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Para muitos, aquela seria a primeira sessão de cinema. Algumas das crianças se encolheram nas poltronas, e até gritinhos de apreensão foram ouvidos nos poucos segundos em que o espaço demorou para se iluminar novamente, desta vez com a projeção de Crianças na Floresta (1932), adaptação da Disney para a história João e Maria, dos irmãos Grimm. Logo toda a plateia já estava com os olhos vidrados na tela e rindo da bruxa malvada que, voando em uma vassoura, era alvejada por duendes com tortas coloridas e abóboras alaranjadas.
Crianças na Floresta é o primeiro dos 11 curtas do programa de 76 minutos que o festival selecionou para alunos da educação infantil. O projeto executa projeções para públicos estudantes de diferentes idades: desde crianças de dois anos até alunos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Rhuan Couto Ramos, quatro anos, era um dos que viviam, pela primeira vez, a experiência de estar diante da tela grande:
- Queria ver aquele homem que dançava na chuva e os relógios furiosos - contou o aluno da escola Anjos da Tinga, uma das cinco escolas na sessão de quinta-feira.
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Rhuan faz referência a duas sequências clássicas do cinema universal: um trecho no qual Gene Kelly dança em Cantando na Chuva (1951) e outro em que Charlie Chaplin percorre as engrenagens (os "relógios") de uma grande máquina em Tempos Modernos (1936).
- Nosso trabalho é qualificar esse contato com o audiovisual. Oferecer obras de grande importância e qualidade é uma boa maneira de fazer isso - afirma Maria Angélica.
Assim como Rhuan, as demais crianças chegaram ao cinema conhecendo um pouco do que iriam assistir. A expectativa foi criada pelos professores, uma vez que o projeto prevê sessões preparatórias para quem acompanha as turmas.
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- Há três semanas a gente vem falando da sessão com os alunos, eles já estavam bem curiosos. Além da exibição dos filmes, o passeio é muito positivo pois faz as crianças circularem por outros ambientes - diz a professora Paula Santos Melo, da escola Patinho Feio, no bairro São Geraldo.
Se o objetivo é formar público, o projeto parece funcionar:
- Esperava muito. Daí gostei muito - sentencia Rhuan.
Em vídeo, veja a experiência dos estudantes no cinema:
O projeto
O Festival Escolar de Cinema, que chega neste ano à sétima edição, oportuniza a estudantes e professores da rede municipal e estadual de ensino da Capital assistir a sessões de cinema em diferentes pontos da Capital. Estão envolvidas no projeto as salas P. F. Gastal, CineBancários, Redenção e Cinemateca Capitólio.
Números
De 15 de abril a 15 de maio, período de realização do festival, estão previstas 90 sessões de cinema, contemplando um público de cerca de 12 mil estudantes - desde crianças de dois anos até adultos do EJA. Para transportar as escolas até as salas, são disponibilizados 250 ônibus.
Realização
O projeto é realizado pela Prefeitura de Porto Alegre e pela UFRGS, sendo parte das ações do Programa de Alfabetização Audiovisual financiadas pelo MEC/Mais Educação.
Os filmes
O festival apresenta desde animações da década de 1930 até filmes recentes como O Grande Hotel Budapeste (2014), de Wes Anderson, respeitando as diferentes faixas etárias do público. Os professores contam com sessões preparatórias para melhor trabalhar as produções com os alunos em sala de aula.