Iberê Camargo (1914 - 1994) era um obstinado, um artista que se dedicou a uma busca obsessiva pela perfeição da forma, pelo gesto máximo da expressão. O fazer artístico, para ele, envolvia dedicação exaustiva, entrega total.
Com tal postura, encarava a arte não como o momento iluminado de um gênio, mas como um desvelamento resultante de um custoso labor. Mais do que um criador inspirado, o Iberê que se consagrou entre os mestres da arte moderna no país era um trabalhador incansável.
"A pintura é uma colocação existencial. Eu sempre pintei com minhas vísceras e sempre com muita paixão", disse nos anos 1980 em entrevista ao pintor Jorge Guinle (1947 - 1987).
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Essa dimensão do artista como um operário é o mote da exposição Iberê e seu Ateliê: as Coisas, as Pessoas e os Lugares, que será aberta nesta sexta-feira (3/4), na Fundação Iberê Camargo (FIC). Com mais de cem obras reunidas em um dos andares do prédio, a mostra destaca a busca permanente do artista.
- A ideia é apresentar este artista que batalhou pela mais perfeita forma, pela mais precisa adequação entre seus desejos e os meios disponíveis em busca dos resultados almejados. A mostra destaca o aspecto do operário das artes, o artista trabalhador, que, antes de ter certezas, tem problemas, daí a rotina de exercícios, estudos, tentativas, buscas e da prática exaustiva - diz o curador Paulo Gomes.
Professor do Instituto de Artes (IA) da UFRGS, Gomes busca evidenciar o percurso trilhado por Iberê ao longo dos seus 50 anos de produção. Para isso, organizou a exposição em torno de três temáticas: as figuras, as paisagens e as naturezas-mortas:
- Considero serem os três temas centrais da sua poética. É uma exposição simples na sua proposta curatorial, visando a uma fruição direta e objetiva da obra de Iberê Camargo.
Se na mostra anterior, Iberê Camargo: Século 21, o centenário do artista foi celebrado com suas obras em diálogos com as de artistas contemporâneos, agora será a oportunidade de se vislumbrar uma panorâmica que situa o modo como Iberê encaminhou as diferentes fases e momentos de sua obra.
- A proposta é uma visão cronológica do desenvolvimento dos temas em desenhos, pinturas e gravuras, possibilitando um olhar abrangente da sua trajetória em temas e formas e de como ela se desenvolveu ao longo de sua carreira. A ideia de desenvolvimento deve ser compreendida não somente como evolução, mas como uma busca, com avanços e recuos, na procura das melhores soluções formais para os problemas que foram se apresentando na sua trajetória. Daí o retorno e/ou a permanência de temas que percebo em sua obra - comenta Gomes.
Na seleção da mostra, constam desde preciosidades como os primeiros trabalhos de Iberê produzidos na adolescência, até obras fundamentais que o tornaram nome referencial da pintura brasileira.
- Há obras pouco conhecidas, mas todas muito importantes para o que pretendo mostrar. Indicaria principalmente aquelas que são da ordem dos exercícios, dos ensaios, da prática sem o fim deliberado de serem "obras" - comenta o curador.
Iberê e seu Ateliê: as Coisas, as Pessoas e os Lugares
- Abertura sexta-feira (3/4), a partir das 12h. Visitação de terça a domingo (inclusive feriados), das 12h às 19h (último acesso às 18h30min), exceto às quintas, quando o museu fica aberto das 12h às 21h (último acesso às 20h30min). Até 27 de março de 2016. Entrada grátis.
- Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2.000), em Porto Alegre, fone (51) 3247-8000. Estacionamento pago: pago, no subsolo da Fundação, com entrada pela Av. Padre Cacique, no sentido Zona Sul, pelo lado direito da pista.
PROGRAMAÇÃO
Marino Marini
No próximo dia 11, a Fundação Iberê Camargo (FIC) apresenta a exposição internacional Marino Marini: do Arcaísmo ao Fim da Forma, considerada a primeira individual no Brasil do artista italiano morto em 1980 e reconhecido mundialmente por suas esculturas em bronze.
Iberê na Itália
Anunciadas como parte da programação em homenagem ao centenário de nascimento de Iberê Camargo, as três mostras do artista que seriam apresentadas neste ano na Itália foram canceladas. O motivo, segundo a Fundação Iberê Camargo, é a situação do cenário econômico.