São poucas as bandas que têm a capacidade de se relacionar sem intermediários com seu público. A Apanhador Só é uma delas.
Desde o seu surgimento, em 2003, a banda gaúcha vem encontrando caminhos para andar com as próprias pernas por rotas alternativas ao mercado musical. Agora, o grupo dá um passo adiante em sua estratégia de atuação independente com uma turnê nacional que a levará a circular o país, mas tocando para plateias privilegiadas. Pelo projeto, as apresentações serão realizadas somente nas salas de estar das casas dos fãs.
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Entre os dias 10 e 12 de abril, três shows na acolhedora casa do músico Flu, no bairro Três Figueiras, marcaram o pontapé inicial do projeto. A ideia é a seguinte: em maio, a banda lança uma vaquinha no site Catarse, a fim de arrecadar grana suficiente para comprar um carro e alguns equipamentos. Com isso, pegam a estrada e fazem cerca de 80 shows em 20 cidades - para escolher as cidades e as residências onde os shows serão feitos, eles já abriram enquetes no Facebook e começaram conversas com fãs das cidades mais votadas. Depois de sete meses, voltam a Porto Alegre, vendem o carro e produzem o disco novo com o dinheiro (e com a inspiração dessa experiência intensa).
Sem intermediários, sem produtores, sem patrocínio: só a banda e os fãs. Alexandre Kumpinski, vocalista da banda, diz que a ideia amadureceu aos poucos, mas foi testada pela primeira vez durante os shows acústicos na casa de fãs que doaram para o financiamento coletivo do álbum Antes que Tu Conte Outra, em 2012:
- Essa sacada veio aos poucos. Durante os acústicos, a gente viu que o formato era legal e que solucionava um problema. Brasília, por exemplo, tem um público que gosta da gente, mas nunca surgiu a oportunidade de alguém nos bancar por lá. Então caiu a ficha: a gente só precisa arranjar a casa, fazer um evento no Facebook e avisar a galera.
A experiência mais intimista não rendeu só mais desfrute, mas também mais dinheiro. Com três sessões lotadas, cada uma com 160 ingressos vendidos a R$ 30, a banda levou pouco mais de R$ 14 mil, quase brutos - algo impensável para uma apresentação envolvendo custos de produção.
Em um momento em que artistas buscam caminhos alternativos para ganhar dinheiro e viver de sua arte, a Apanhador Só parece ter encontrado o seu modo de atuação. O caso da banda é específico por estar atrelado a um público fiel, que se dispõe a tirar dinheiro do bolso para colaborar com a banda e ver um disco ser feito, mas pode servir de norte para estratégias a serem tomadas por outros artistas. Em sua trajetória, a Apanhador já tocou em palcos tradicionais como o Theatro São Pedro. Mas, para os músicos, o mais importante ainda é manter o contato mais intimista com o público.
- O São Pedro é muito massa, dá a sensação de que chegamos a outro patamar, mas eu prefiro a experiência da casa. A banda e o público estão no mesmo nível, no mesmo chão, metafórica e literalmente. Se não tiver público, não tem nada.
No fim das contas, a banda parece ter descoberto algo básico. Nas palavras de Kumpinski, "perde-se de um lado e ganha-se de outro".