De um lado, Slash, o ícone, o mito, o ídolo, todo cartola, cabelos desgrenhados e Gibson Les Paul. Do outro, uma multidão igualmente uniformizada, de preto, coturno, algumas bandanas, muitas camisetas do guitarrista e de sua ex-banda, o Guns N' Roses. Ambos como mesmo objetivo, na noite quente de Porto Alegre da sexta-feira 20 de março: pagar tributo a um passado que não existe mais, quando o rock'n'roll era grandioso e oferecia perigo real e imediato.
Guns n' Roses dispara hits em show na Fiergs
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O público, apesar de sintonizado na mesma frequência, era dividido entre fãs da fase áurea do guitarrista - entre o final dos anos 1980 e começo dos 1990, quando estava na linha de frente do Guns - e gente que sequer havia nascido na época. Injusto dizer, no entanto, que todos queriam ouvir apenas os riffs clássicos do antigo grupo de Slash. Durante mais de duas horas, a audiência que lotou o Pepsi On Stage cantou cada uma das músicas apresentadas - divididas entre os vários momentos da carreira solo do guitarrista, do supergrupo Velvet Revolver e, claro, do Guns.
Durante o show, Slash se comporta como se fosse apenas um músico dos The Conspirators - e não a grande estrela do espetáculo. Passa a maior parte do tempo no canto esquerdo do palco, dando amplo espaço para o vocalista Myles Kennedy trabalhar, bem como o super carismático (e algo caricato) baixista Todd Kerns, o baterista Brent Fitz e o guitarrista Frank Sidoris. O único momento em que Slash vira a prima-dona da apresentação é durante o clássico Rocket Queen, do Guns, quando sola por longos, longuíssimos, longuissíssimos minutos - para delírio absoluto do público, que absorve cada palhetada.
Bem azeitada e com o público previamente na mão, a banda não têm problemas em entregar um belo espetáculo de hard rock, enérgico e em alto volume. Além de hits do Guns N' Roses (Nightrain, Sweet Child O'Mine, Paradise City, Mr. Brownstone), o repertório contempla uma canção do Velvet Revolver (o single Slither) e o restante da carreira solo de Slash, como Ghost, Back From Cali, World On Fire e Anastasia.
Mas é nos números do Guns que a plateia realmente se entrega. Durante a execução de algumas das canções, não era incomum ver gente chorando e grupos abraçados, punhos cerrados no ar, como se lá no palco estivesse de fato o Guns N' Roses e o calendário marcasse algum momento entre 1987 e 1993. Mas para muitos ali, que nunca tiveram a oportunidade de assistir a um espetáculo com a formação clássica da última banda de rock realmente venenosa, o combo de Slash é o mais perto que podem chegar. E já está de bom tamanho.