Quando li que a Vontobel comprara a Neugebauer, fui atropelado pela urgência de um dos meus desejos mais secretos: exigir em alto e bom som a volta do Bastão de Leite, o melhor chocolate da história do mundo. Tenho certeza de que, se o provassem, os deuses do Olimpo trocariam sua ambrosia por ele. Desenvolvi, ao longo dos anos, a tese de que a derrocada do Rio Grande do Sul começou, décadas atrás, devido ao sumiço do Bastão. E estou disposto a implorar à família Vontobel que o devolva aos gaúchos. Quando escrevi "implorar", rindo, me veio à memória um dos trechos do excepcional romance de David Foster Wallace, Graça Infinita, justamente aquele em que um psicanalista à beira de um ataque de nervos pergunta ao adolescente Hal Incandenza se ele sabia o significado desse verbo. Hal, tenista superdotado e maconheiro compulsivo, cuja diversão era decorar verbetes de dicionário, não só sabia como recitou de cor todos os significados da palavra.
Minha insólita associação pode induzir comparações com o personagem química e eternamente "fora da casinha", mas não: nunca me droguei e, desde sempre, não suporto o cheiro adocicado da maconha. Isso não impede que seja favorável à sua descriminalização e uso - para e por quem gosta. Minhas drogas viciantes foram livros e canções, em especial as letras de Caetano e os livros de Clarice Lispector.
Falando em música: sempre gostei mais de Silvio Rodríguez do que de Pablo Milanés, os dois gigantes da Nova Trova Cubana. Pablo, aos 72 anos e tratando de um rim na Espanha, deu uma entrevista incrível para o El País, de Madri. Reproduzo suas palavras sobre a revolução castrista, da qual foi ferrenho defensor : "...arrependido, não. Estou decepcionado - e acho que os que pensam como eu também - com dirigentes que prometeram um amanhã melhor, com felicidade, liberdade e uma prosperidade que nunca chegou em 50 anos".
Em Cuba, lá também, faltou o Bastão de Leite.