O diretor Marcos Jorge estreou bem com Estômago (2007), mas tropeçou com Corpos Celestes (2009), o que acabou afetando a carreira de seu terceiro longa-metragem. O Duelo foi filmado em 2009 e finalizado em 2012, mas seguia inédito nos cinemas. Não fosse pela presença de José Wilker, morto em abril passado, aos 67 anos, talvez ficasse no limbo reservado aos filmes brasileiros sufocados pela falta de espaço no circuito nacional.
Wilker é um dos principais atrativos do longa, que estreia hoje. O Vadinho de Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976) volta à obra de Jorge Amado, agora para interpretar Chico Pacheco, um aposentado fanfarrão responsável por desmascarar o falsário Capitão Vasco (Joaquim de Almeida), recém-chegado a Periperi, no litoral baiano. Os mais íntimos da obra do autor já devem ter percebido: O Duelo é baseado no romance Os Velhos Marinheiros ou o Capitão de Longo Curso (1961).
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O "duelo" a que se refere o título é travado justamente entre os dois personagens citados. O filme começa narrando a chegada de Vasco à cidadezinha e o encanto dos moradores pelas histórias que ele conta, do tempo em que teria dado voltas ao redor do mundo e enfrentado tempestades e tubarões nos mares longínquos. Chico Pacheco entra em cena ao perceber que um contador de causos está chamando mais a atenção do que ele - e, desconfiado da veracidade de seus feitos, se propõe a desmascarar o forasteiro.
O retrato das miudezas que entretêm aquele povo é perspicaz, mas Jorge Amado também quer falar da falta de ética e das relações de interesse tão determinantes para a conformação de um establishment social. Isso, no entanto, só vai ficar claro no decorrer da trama. Antes, o espectador pode se entreter com os acessos de raiva do personagem de Wilker, expostos em discursos inflamados, teatrais, pontuados por uma grande variedade de palavrões.
Contudo, os excessos às vezes fazem O Duelo derrapar. Os aspectos fantasiosos da trama até justificam a estética "barroco-kitsch" (que lembra a de Corpos Celestes pelos movimentos de câmera espalhafatosos, pelos efeitos visuais e pelo uso de chroma-key), mas o artificialismo de alguns diálogos e a falta de timing de certas piadas comprometem a empatia do público. Sobrou ambição, faltou mão firme a Marcos Jorge. E olha que o elenco de apoio, que inclui, entre outros, Márcio Garcia e Tainá Müller, não está mal.
O Duelo
De Marcos Jorge.
Com Joaquim de Almeida, José Wilker, Márcio Garcia, Tainá Müller, Cláudia Raia e Patrícia Pillar.
Drama cômico, Brasil, 2012.
Duração: 110 minutos.
Classificação etária: 12 anos.
Estreia nesta quinta-feira no circuito de cinemas.
Cotação: 2 estrelas (de 5).