Durante toda sua recente excursão pelos Estados Unidos, o cantor britânico Sam Smith ficou impressionado com o tamanho da plateia. Quando tocou pela primeira vez na Filadélfia, em março, foi em um bar pequeno demais para abrigar a banda inteira; no mês passado, ele lotou o ginásio de basquete da Universidade Temple. Sua estreia em Nova York, em agosto de 2013, foi no minúsculo Mercury Lounge, e algumas semanas atrás Smith esgotou os ingressos no Madison Square Garden, onde milhares de fãs cantaram juntos hinos como "Stay With Me".
- Este é mesmo um lugar grande, não é? - perguntou Smith que, aos 22 anos, tem bochechas de querubim e vasta cabeleira castanha, enquanto olhava para o público no Garden - Nunca pensei que chegaria neste ponto com apenas um ano e meio - afirmou.
Com quatro prêmios, Sam Smith é o grande vencedor do Grammy 2015
Sam Smith prolonga bom momento da soul music britânica
Smith estourou no cenário da música pop em 2014 com um tipo emotivo de soul que atraiu comparações com Adele. Em seu primeiro álbum, "In the Lonely Hour", um ciclo de canções sobre um caso complicado, tocou igualmente os corações de ouvintes e dos programadores das rádios, tornando-se um dos três únicos lançamentos do ano passado a ganhar um disco de platina.
Parte central do sucesso de Smith é sua voz doce de tenor, que sobe a picos andróginos intensos. Todavia, seu êxito também é um sinal do que ainda pode acontecer na cambaleante indústria musical quando tudo se encaixa, quando se atinge o equilíbrio correto entre a divulgação on-line, o ataque relâmpago dos meios de comunicação de massa e as apresentações ao vivo. Em um nível raramente visto em artistas novos, Smith e sua gravadora pareciam fazer quase tudo certo, desde uma primeira participação em "Saturday Night Live" a detalhes comerciais como a gestão das vendas digitais.
- Ele é o novo artista perfeito neste mundo em que vivemos - afirmou Steve Barnett, presidente da Capitol Music Group, gravadora de Smith - As pessoas falam que existem tantas coisas erradas no mundo da música moderna, mas cinco anos atrás não daria para fazer o que fizemos nos últimos seis meses - afirmou.
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Pessoalmente, Smith tem fala mansa, mas deixa claro que o estrelato é uma ambição antiga. Nascido em Londres, ele cresceu idolatrando divas pop como Whitney Houston e Chaka Khan, e passou a adolescência cantando jazz e canções de musicais. A direção futura foi selada aos 11 anos, quando ouviu o primeiro disco de Amy Winehouse, "Frank", com sua mistura de jazz, ritmos contemporâneos e sexualidade despudorada.
- A coragem e a honestidade em sua música começaram a afetar meu jeito de cantar - contou nos bastidores antes do show na Filadélfia, no Liacouras Center - Virei Sam Smith, o cantor, em vez de tentar ser Jean Valjean em 'Os Miseráveis'. Eu estava criando uma identidade com a minha voz, enquanto antes apenas copiava outros cantores - revelou.
Três anos atrás, correndo atrás de uma chance na música enquanto ainda trabalhava em um bar londrino, Smith conheceu a dupla de música dance Disclosure. Guy Lawrence, um dos dois irmãos responsáveis pelo grupo, lembra-se de ter ficado impressionado com a voz de Smith em uma gravação demo e o convidou a uma sessão de composição sem nem sequer conhecê-lo pessoalmente.
- Sinceramente, pensei que ele seria uma mulher negra, como Samantha Smith ou algo assim - contou Lawrence.
A canção "Latch", que eles compuseram com Jimmy Napes, um dos colaboradores regulares de Smith, é uma música house animada pontuada pelos agudos do cantor, sua marca registrada. Lançada em 2012, ela ficou em 11º lugar nas paradas britânicas, levando a mais convites em músicas dance e fazendo de Smith uma estrela em ascensão na Grã-Bretanha.
Contratado pela Capitol, ele começou a desenvolver o tema de seu disco solo, que ficou pronto depois que Smith, que colaborou com outros compositores em todas as canções, se deixou guiar pelos sentimentos mais íntimos de seu amor não correspondido por outro homem.
- Para esse disco, mostrei aos compositores minhas mensagens de texto - ele disse.
O álbum flerta com vários estilos: "I'm Not the Only One" e "Stay With Me" têm um som soul retrô simples; a animada "Money on My Mind" traz uma das manobras vocais mais acrobáticas de Smith.
Conectando todas elas estão letras notavelmente reveladoras, mesmo deixando ambíguo o sexo de seu caso. Porém, pouco antes de o álbum ser lançado, Smith revelou a inspiração na vida real das canções em entrevista à revista "The Fader", e o clipe de "Leave Your Lover", com toques country, também brinca com a questão de gênero. Depois de seguir Smith em um aparente triângulo amoroso com uma mulher e outro homem, o vídeo mostra no final que o vocalista estava a fim do cara.
Smith disse nunca ter titubeado em expor seus sentimentos, mas foi cauteloso em como e quando revelar sua orientação sexual.
- Eu queria que minha voz fosse o aspecto principal quando se procurasse meu nome no Google - ele declarou - Eu não queria ser 'Sam Smith, o cantor gay'. Eu queria ser 'Sam Smith, o cantor que vem a ser gay' - desabafou.
Ainda segundo ele - não dá para classificar as coisas. É a mesma coisa com a música, sexualidade, raça. Não se pode botar rótulos neles só porque é fácil para digerir assim - afirmou.
Com "In the Lonely Hour", a Capitol empregou uma estratégia restrita para as vendas on-line, segurando o álbum por um mês para aumentar as vendas antes de liberar aos serviços de streaming. Deu certo. "In the Lonely Hour" estreou em segundo lugar e vendeu 1,3 milhão de cópias nos Estados Unidos. No ano passado, somente Taylor Swift e a trilha sonora de "Frozen" venderam mais. "In the Lonely Hour" terminou sendo o segundo álbum mais popular do Spotify do ano no mundo inteiro; o primeiro lugar coube a "x", de Ed Sheeran.
Com uma balada perfeita com toques de gospel, "Stay With Me" pareceria uma escolha difícil para as rádios comerciais. Sharon Dastur, vice-presidente de programação do iHeartMedia, contou que em meados do ano passado:
- Os cinco primeiros lugares durante semanas e semanas foram Taylor Swift, Meghan Trainor, Ariana Grande, Iggy Azalea - Porém, em meio a todas aquelas músicas alegres, Smith se destacou - É aquela paixão, a pureza em sua voz - acrescentou Sharon.
Quando chegou a hora de divulgar "Stay With Me", a história também estava do lado de Smith. Os estouros de Adele e Winehouse prepararam os programadores para o próximo grande sucesso britânico.
- Sem Amy e sem Adele, o caminho de Sam para o sucesso provavelmente seria mais difícil - disse Nick Raphael, presidente da Capitol Records britânica - Elas definiram o tom; elas mudaram o formato do rádio - completou.
Quando questionado sobre as comparações com Adele, Smith primeiro se esquivou educadamente.
- É um elogio imenso, mas não acho que esteja correto - afirmou.
Depois, ele aproveitou a oportunidade de cutucar o mundo da música pop, sugerindo que ele e Adele estão entre os poucos cantores que "só se destacam no palco cantando", sem ter de recorrer aos traseiros.
- Se voltássemos 30 ou 40 anos no tempo, haveria muito mais pessoas assim: Etta James, Ella Fitzgerald. A questão não era a celebridade; eram a música e as letras - acrescentou. No palco, ele usa ternos escuros e um brilhante par de tênis preto e branco da Prada.
Smith está trabalhado em seu próximo disco.
- Será a coisa mais honesta que já compus na minha vida inteira. É sobre a separação dos meus pais, e será ainda mais honesto e brutal - revelou.
Ele já começou a tocar duas músicas para familiares e amigos.
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