Batizado de "Felisberto", o piano se tornou um terceiro personagem do espetáculo que a dançarina Maria Alice Poppe e o músico Tato Taborda apresentam, desta sexta-feira (20/2) a domingo (22/2), na Sala Carlos Carvalho da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, com entrada franca. A inspiração veio da obra do escritor uruguaio Felisberto Hernández, na qual objetos inanimados ganham vida, uma referência sugerida pelo encenador Aderbal Freire-Filho (leia entrevista).
"Mesmo no teatro, eu me considero um coreógrafo", diz Aderbal Freire-Filho
Conhecido por seus trabalhos no teatro (Incêndios, entre outros), ele foi convidado por Maria Alice e Taborda para dirigir, pela primeira vez, um espetáculo de dança. A produção carioca Caprichosa Voz que Vem do Pensamento é uma conversa a três vozes em que um procura se colocar no lugar do outro, segundo a bailarina:
- A imbricação entre as artes é a grande comunicação que o espetáculo traz. A gente brinca que o Aderbal coreografa, eu toco piano e o Tato dança.
Tudo neste trabalho leva a um questionamento de fronteiras: entre teatro e dança, entre dança e música e, não menos importante, entre vida e arte (Taborda e Maria Alice são casados fora dos palcos). O pianista explica:
- Muita gente vê o espetáculo como expressão do convívio de um casal. É uma leitura inevitável para quem assiste a um homem e a uma mulher em cena. Mas não pensamos a partir do nosso convívio para gerar o material.
Há um roteiro "bem amarrado", nas palavras de Maria Alice, mas, entre os movimentos e as cenas, existem frestas para o inesperado. O processo de criação foi baseado no que Taborda chama de um "improviso relacional", em que o som inspira o gesto dançado e vice-versa.
Um exemplo disso é a técnica de dança empregada pela bailarina, baseada nos ensinamentos dos coreógrafos Klauss Vianna (1928 - 1992) e Angel Vianna (a quem Maria Alice acompanhou no espetáculo Qualquer Coisa a Gente Muda, apresentado em Porto Alegre em maio passado), que utiliza mais as articulações dos ossos do que a força dos músculos. De forma similar, Taborda interferiu nos "ossos" do piano ao inserir objetos entre as cordas, originando uma sonoridade própria que lembra a estratégia empregada pelo compositor americano de vanguarda John Cage.
Leia mais notícias de Entretenimento
CAPRICHOSA VOZ QUE VEM DO PENSAMENTO
Sexta-feira (20/2) e sábado (21/2), às 20h, e domingo (22/2), às 19h.
Sala Carlos Carvalho da Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736, 2º andar), fone (51) 3221-7147, em Porto Alegre.
Entrada franca, por ordem de chegada. A produção recomenda chegar com uma hora de antecedência.
Assista a um trecho do espetáculo:
