As razões que fizeram o baixista Renato Rocha deixar a Legião Urbana em 1989 e sua errática trajetória desde então alimentam a mitologia de uma das mais adoradas bandas do rock brasileiro. Conhecido como Negrete, Rocha foi encontrado morto neste domingo, aos 53 anos, no quarto do hotel em que morava, no Guarujá, litoral de São Paulo.
O comportamento instável e displicência foram justificativas alagadas por Renato Russo (1960- 1996), Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá para o rompimento com Rocha quando banda, no auge do sucesso, se preparava para gravar seu quarto disco As Quatro Estações. Por sua vez, Rocha, dizia que o motivos da expulsão nunca ficaram claros para ele, como comentou em entrevista a Zero Hora, em 2004.
Ex-baixista da Legião Urbana é encontrado morto no litoral de São Paulo
- Estávamos no elevador do prédio da EMI, íamos assinar um novo contrato. Ele (Renato Russo) de repente disse que eu não era mais da banda, estava muito bravo. Cada um na banda tinha um ponto de vista, sua diretriz. Não tínhamos o entrosamento de sair juntos.
À época em que passou pela Capital, Rocha tentava retomar a carreira, integrando diferentes grupos, como o Seu Américo, no Rio, e a Rocha, de Curitiba, além de eventuais tributos a sua ex-banda. Disse que vivia dos direitos autorais sobre as gravações dos três primeiros discos da Legião Urbana e que tinha uma rotina "estabilizada" ao lado da mulher e dos dois filhos, em Vargem Grande, no Rio de Janeiro.
Admitiu o baixista em seu depoimento a ZH que, em período de dificuldades, chegou a pedir ajuda financeira à mãe de Renato Russo.
- Minha relação com a dona Carmem sempre foi ótima. Isso foi há um ano (em 2003). Estava difícil conseguir grana com a EMI, que estava no vermelho.
Rocha voltou ao noticiário no começo de 2012, quando reportagem de um programa dominical de TV o flagrou vivendo nas ruas do centro do Rio, carregando seus pertences em um saco plástico. Ele disse à reportagem que estava naquela situação por não ter mais como pagar o hotel em que vivia e que também não tinha mais contato com a mulher e os dois filhos.
A melancólica situação expôs a trajetória errática do ex-punk que nunca conseguiu retomar a carreira de forma efetiva por conta de seu temperamento explosivo e dos excessos com químicos. Diante da câmera, Rocha dizia sentir saudades dos anos de sucesso e no, empunhando baixo que havia deixado com um amigo, esboçou acordes de Ainda É Cedo, sucesso do primeiro disco da Legião, de 1985.
Em depoimentos mostrados pelo programa, o guitarrista Dado Villa- Lobos e o baterista Marcelo Bonfá, reiteraram que o comportamento de Rocha foi a razão para sua expulsão do grupo. Com a repercussão da reportagem, Bonfá escreveu mensagens no Twitter: "Nós da banda sempre tentamos ajudar o Renato Rocha, mesmo quanto ele ainda era um músico ausente. Depois disso, ele se distanciou e se envolveu em problemas que iam além das nossas possibilidades de ajudá-lo".
Advogado e militar aposentado, Sebastião Rocha, pai do músico, destacou no programa que a trágica situação do filho resultava do abuso de drogas, agravado pela depressão após a separação da mulher e dos filhos.
De acordo com o pai, Rocha gastou todo o dinheiro que ganhou sem se preocupar em adquirir bens ou poupar. Na ocasião, o músico recebia uma média mensal de R$ 900 em direitos autorais _ embora seja creditado como autor de poucas canções da Legião, ganhava por sua participação nos três primeiros discos.
Foi por conta do ofício do pai que Renato Rocha, carioca nascido no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em 27 de maio de 1961, foi morar em Brasília, em 1970. Foi no efervescente cenário musical do Distrito Federal que ele passou a circular com jovens admiradores do movimento punk, ambiente no qual conheceu Bonfá. A Legião Urbana era então um trio, com Renato Russo cantando e tocando baixo. Quando a banda foi contratada para gravar o primeiro disco, no Rio, Rocha foi convocado. Ele coautor de faixas como A Dança, do disco Legião Urbana (1985), Daniel na Cova dos Leões, Quase sem Querer e Acrilic On Canvas, de Dois (1986), e Mais do Mesmo, de Que País é Este? (1987).
A informação da morte do músico confirmada pela polícia e pela página oficial que parentes de Rocha mantêm no Facebook. O ex-baixista foi encontrado sentado, encostado à porta do quarto do hotel, sem sinais de violência ou vestígios de drogas. A causa mais provável, segundo a página, é parada cardíaca.
"Segundo informações de seu irmão, dr. Roberto da Silva Rocha, a governanta que cuida de Renato Rocha foi ao quarto, chamou e ele não atendeu. Abriram a porta e ele estava caído. A polícia fez vistoria e não tinha sinais de violência nem drogas, foi ataque cardíaco", diz trecho da mensagem publicada na página de Rocha. O corpo do músico foi levado ao IML (Instituto Médico Legal) no início da tarde, onde passará por exames.