Madre Joana era um lírio entre caraguatás. Ou seja, um cisne entre aves de rapina. Por ciladas do destino ou provações da fé, foi cair em missão de caridade, lá pelas bandas do Passo dos Contrabandistas. Ôh, terra brava de capim afiado! Os homens cheirando a pólvora e a vontade do Coronel Teobaldo Galeno baixando a fuça de qualquer destemido. Madre Joana sentiu ser possível pôr curativo no corpo dos enfermos, mas, para as almas daquela gente, nem mesmo reza da mais pura devoção alcançava proveito.
Por estes tempos, um tal de Juventino Ruleia, domador mui rebelado, andou plantando umas araganagens pelas vendas, dizendo que o Coronel Galeno sempre fora um chifrudo de guampa larga, sovina, caloteiro e bolastristes. Convocando quatro capangas, o Coronel deu ordem de serviço:
- Tragam o reiuno patife à minha presença, se por consentimento, em montaria e, se contrariado, de arrasto.
Depois de inútil resistência, puxado por quatro cordas, presas na cintura e no pescoço, o tal Ruleia veio rolando pedregulho. Os homens a cavalo, e ele a pé, num tomba e levanta, quando a cavalgada ganhava o trote. O prisioneiro era puro lanho, argila e sangue misturados, rosto ferido, olho tapado pelos inchumes. Quando o quarteto de capangas passou pela encruzilhada, arrastando o injurioso desvalido, como se fosse um tronco no lodaçal, Madre Joana Therezinha estava na parada do ônibus, com seu hábito branco e alva sombrinha. Parecia a pomba da paz em campos de guerra. Presenciando tão lastimáveis práticas de vindita, a madre olhou para os céus, que estavam mudos de luz e vazios de bênçãos divinas, e bradou com todas as forças de sua alma piedosa:
- Não façam isso com um Filho de Deus! É melhor matar do que ultrajar desta maneira a vida e dignidade de um ser humano!
Juventino Ruleia ergueu a cara da terra de chão batido, cuspiu lama e disse murmurante:
- Irmãzinha, assim como tá vai bem. Deixe assim como está... irmãzinha!