Final de um ano marrento/começo de outro igualmente difícil, época perfeita para entrar no clima "paz e amor" que o período enseja. Regido por Ogum e Iansã, o ano promete embates duríssimos. Por isso mesmo, na virada do dia 31 pedi aos duendes do universo que atendessem cinco desejos de um homem teimosamente crente.
Demasiadamente humanos, reais, meus pedidos miraram forças transformadoras para:
a) Iluminar os corações e mentes dos Bolsonaros da vida, cujas posturas me soam repulsivas, indignas de homens de bem. Que as Marias do Rosário se fortaleçam ante a sanha machista desses caras;
b) Erradicar episódios racistas e homofóbicos do solo brasileiro, incompatíveis com a ideia de um país equânime e solidário;
c) Desgrenalizar o nosso combalido Rio Grande, para que não afundemos em desgastadas picuinhas partidárias. Nós, gaúchos, temos o dever de evitar o naufrágio do Titanic. Nosso navio já bateu no gelo;
d) Esclarecer os conceitos antropológicos que se grudam às leis de incentivo à cultura. Moda e culinária, por exemplo. É justo que existam leis específicas para esses setores. Sem discussão. Mas misturar tudo no saco das artes cênicas só dificulta o que já é, em si, muito difícil;
e) Perdoar um mundo onde homens adultos se dão o direito de invadir escolas e atirar na cabeça de estudantes adolescentes. Não há o que me faça entender uma coisa assim.
Clarice Lispector, durante anos, escreveu uma coluna no Jornal do Brasil. Uma vez, queria encerrar o texto com um "feliz Ano-Novo" aos seus leitores, mas mudou de ideia. Que o ano fosse feliz não lhe parecia importante. Mas que, por pura alegria de viver, fosse um ano realmente novo! Cravou um definitivo "novo Ano-Novo" a todos. E quem sou eu pra contradizer Clarice? Mas, em dúvida, ouvindo Rainha dos Raios, o maravilhoso disco novo de Alice Caymmi, meu coração resolveu acreditar no que o Jânio de Freitas disse outro dia: "Dias melhores verão!".