Fiel escudeiro de Dave Grohl, o baixista Nate Mendel está no Foo Fighters desde o primeiro disco, lançado em 1995. Em entrevista por telefone, concedida em setembro, ele falou sobre a gravação de Sonic Highways, seus 20 anos de banda e se a maturidade musical tornou os Foo Fighters menos rebeldes.
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Por favor, nos fale como será o show em Porto Alegre. Podemos esperar ouvir algumas músicas do novo álbum?
Essa é nossa primeira viagem para a América do Sul para tocar o novo disco, que acabou de sair em novembro, então nós vamos tocar algumas músicas do novo álbum, sim. E, claro, vários clássicos do Foo Fighters, como Times Like These, All My Life e Monkey Wrench.
Nos Estados Unidos vocês têm a tradição de romances e filmes de estrada. Podemos chamar esse de um disco de estrada?
Claro. Você é a primeira pessoa a falar disso dessa maneira. É, na verdade, uma boa maneira de descrever, sabe. Foi uma ideia que o Dave teve há alguns anos, ele fez um filme sobre o estúdio Sound City e estávamos fazendo um tour com um grupo de músicos que estavam no filme. Um dia, no backstage, Dave disse: "Tive uma ótima ideia para o nosso próximo álbum: vamos gravar cada música em uma cidade diferente e depois falar sobre esses estúdios nos quais gravamos". E não era originalmente sobre o cenário musical ou as próprias cidades, a ideia se desenvolveu com o tempo e se tornou mais sobre todo o ambiente em que a música é feita. Quando gravamos em Austin, fizemos um minidocumentário sobre a cidade, o estúdio em que gravamos e nossa experiência lá. Se tornou uma história sobre uma cidade e o que acontece lá musicalmente.
Vocês escolheram cidades que têm uma ótima tradição musical, certo?
Isso foi algo que meio que aconteceu depois, escolhemos as cidades baseados em coisas que tinham a ver com a banda e com Dave. Ou estúdios que pareciam atraentes e interessantes por si só. Depois, olhamos para trás e os lugares que estivemos, e dissemos: é, essas são cidades que têm sua própria história musical e são importantes na cena. Não foi "vamos a cidades que têm história na música e falar sobre isso". A gente acabou se voltando para essa ideia.
Como cada ambiente influenciou nas composições?
Como uma cidade ou um estúdio nos influenciou é complicado dizer, porque nós só estivemos nos lugares por uma semana, não foi uma situação em que uma cidade iria moldar a música necessariamente porque não é tempo o suficiente para uma coisa assim acontecer. Para nós, foi sobre trazer convidados musicais de cada cidade, essa é a conexão mais direta na influência da cidade na música. Em Austin, recebemos Gary Clark Jr., que é um músico local, toca blues, cresceu lá, teve músicos de blues legendários de Austin como mentores, e ele veio e tocou um solo incrivelmente lindo no meio da música que gravamos e foi assim que a cidade moldou a música. Você teria que estar lá por meses para moldar a música de verdade.
As pessoas sempre falam sobre como viagens as mudam. Você diria que esse período viajando causou uma mudança importante na banda?
Acho que ainda é cedo para dizer. Foi a coisa mais interessante, legal e divertida que fizemos como uma banda, com certeza. Isso não é pouca coisa, considerando que somos uma banda há 20 anos, viajando o mundo por esse tempo todo. Foi incrível, era estar em turnê e gravar ao mesmo tempo, vendo essas cidades de um jeito que nós nunca tínhamos visto antes. Porque normalmente você vai a Chicago e está lá durante um dia, e você meio que passa ligeiro, e vai do aeroporto para o hotel, para o lugar do show, e depois de volta para o hotel e aí já está na próxima cidade. Poder viver e trabalhar nessa cidade foi uma experiência incrível. Como isso vai mudar nossa banda ainda é muito cedo para dizer, mas foi, definitivamente, uma experiência incrível.
Você falou sobre tocar com músicos de blues. Qual outro gênero entrou no álbum?
Eu acho que o mais único é que estivemos por todos os lados, Ben Gibbard veio e cantou uma música em Seattle, tocamos com Joe Walsh em Los Angeles. Mas o mais distante da gente foi em New Orleans, com uma banda de jazz, e nós somos uma banda de rock. São gêneros muito diferentes. O que fazemos parece muito certinho comparado com o que acontece em New Orleans. E nós estivemos com a Preservation Hall Jazz Band - gravar no espaço deles, por exemplo, foi incrível -, mas a banda tocar a nossa música foi realmente único e definitivamente diferente para nós. Nós nunca tivemos um naipe de metais numa música do Foo Fighters antes. Então foi muito legal.
Você diria que vocês se distanciaram do rock?
Bem (risos), eu diria que talvez por um minuto, mas nós estamos bastante enraizados no que fazemos. Nós fomos um pouco além, mas voltamos e nos persuadimos a não ir para outro gênero. Mas nós definitivamente temos um novo respeito por outros tipos de música de um jeito que talvez a banda não tivesse antes, abriu nossos olhos.
No trailer do álbum, Dave Grohl fala sobre esse ser o álbum mais ambicioso do Foo Fighters. Por que isso? Que barreiras vocês quebraram?
Eu não sei se é musicalmente o álbum mais ambicioso porque é um disco bem Foo Fighters, ninguém vai confundir isso com algo completamente novo. Soa como nós, mas foi mais do que gravar um álbum do Foo Fighters. Foi um esforço deliberado para expandir o que significa estar nessa banda e foi desafiador e diferente. Porque viajar, passar seis meses gravando um disco em oito cidades diferentes e contar histórias dessas cidades enquanto você está gravando o álbum e ter Dave escrevendo letras que eram baseadas nessas cidades e nas experiências que ele teve enquanto esteve lá. É muito diferente do passado.
Você está no Foo Fighters desde o primeiro disco, certo? Olhando para trás e lembrando a carreira da banda, como você a vê hoje?
Eu acho que cada banda é única, mas seguem padrões em sua vida, assim como pessoas. Eu acho que se você parar e olhar para onde nós deveríamos estar como banda seria provavelmente muito diferente do que somos como banda. Eu acho que ainda estamos descobrindo o que significa ser um foo fighter e do que somos capazes. E eu acho que ainda há o que reinventar. Espero que ainda haja o que reinventar, é o que toda banda persegue. Quando você tem um certo número de músicas e você precisa achar novas maneiras... pegar essa jarra de noções musicais que você tem e chacoalhar tudo isso. Você tem que ser muito criativo no jeito que faz isso. Eu acho que estamos numa adolescência tardia.
Isso significa que vocês ainda são rebeldes?
Eu não diria rebeldes... Significa que a banda amadureceu de alguma forma. O Sonic Highways é um jeito de olhar em volta e admirar nosso ambiente, o que é uma forma madura de encarar o mundo. Quando você é jovem não é sobre apreciar, é sobre botar paredes abaixo. E eu acho que nós já derrubamos paredes. Mas há outra maneiras de ser criativo.
Quando você fala sobre criatividade, em relação a suas músicas antigas, isso significa que você tenta tocá-las de uma forma diferente em shows?
Isso acaba se tornando um malabarismo, você quer tocar as músicas de um jeito que respeita o poder que elas podem ter quando são tocadas certo e se manter fiel à composição, mas também achar um jeito de contornar isso um pouco. Então fazemos isso. Nós não queremos nos tornar uma banda de jam, sem desrespeitar bandas que fazem isso, mas esse não é o propósito do Foo Fighters. Então nós tentamos achar um equilíbrio entre respeitar as músicas e deixá-las frescas brincando um pouco com elas.
Depois de toda essa viagem eu imagino que vocês foram expostos a banda diferentes. Pode me dizer que bandas vocês estão ouvindo hoje em dia?
Eu não estou escutando muito coisas novas, estou tentando explorar discos de funk antigo e um pouco do hard core que eu escutava quando era criança. Bandas como The Offenders, do Texas. Eu amava quando era criança, depois deixei de lado por 20 anos, e então um amigo reeditou alguns dos discos clássicos deles e eu estou ouvindo isso e lembrando o quanto eles eram bons.
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