Há exatos cem anos, nascia um dos maiores nomes da arte brasileira no século 20: Iberê Camargo, pintor moderno, natural de Restinga Seca, na Região Central do Rio Grande do Sul. A carreira artística ganhou os primeiros traços em 1927, quando iniciou o aprendizado em pintura na Escola de Artes e Ofícios da Cooperativa da Viação Férrea de Santa Maria.
Em 1936, mudou-se para Porto Alegre, onde participou do Instituto de Belas-Artes do Rio Grande do Sul e trabalhou como desenhista técnico na Secretaria Estadual de Obras Públicas do Rio Grande do Sul. Seis anos depois, teve sua primeira exposição e vendeu o primeiro óleo, chamado Paisagem.
Antes de ter reconhecimento nacional no meio artístico, Iberê já mostrava uma de suas características mais marcantes, a grande exigência em relação à qualidade das obras. Essa particularidade foi demonstrada em um episódio ocorrido em 1942, quando recebeu uma bolsa do governo Estadual para estudar no Rio de Janeiro e teve um primeiro contato com Cândido Portinari, segundo relato do amigo, Protógenes de Mello:
“Ele, quando recebeu uma carta de recomendação para ter experiência no Rio de Janeiro, foi destinado diretamente a Cândido Portinari, maior autoridade da época na arte brasileira e sul-americana. Portinari o recebeu. Iberê era muito franco, o que ele tinha de dizer para qualquer pessoa, fosse o presidente ou Papa, ele dizia. Portinari perguntou o que ele tinha achado da pintura que tinha feito e ele disse: olha, não gostei. Portinari riu e aceitou a crítica.”
No Rio de Janeiro, Iberê ingressou na Escola de Belas Artes, que abandonou por discordar da orientação acadêmica para iniciar um curso livre. No fim da década de 1940, teve experiências na França e na Itália. Em Roma, estudou gravura com Carlo Alberto Petrucci, pintura com Giorgio De Chirico, materiais com Leoni Augusto Rosa e afresco com Achille. Em Paris, teve experiências em pintura com André Lhote. Seus trabalhos foram expostos também no Japão.
A professora do Instituto de Artes da UFRGS, Icleia Cattani, conta que a dedicação à arte, existente desde os primeiros traços, resultou na excelência em todas as áreas de atuação:
“Na gravura, Iberê é excelente. No desenho, ele é excelente. E na pintura, ele foi uma figura na ponta da qualidade possível. Ele se destacou em todas as áreas em que trabalhou pelo fato de ele ter esse rigor e de querer ser artista antes de tudo, sem se preocupar em fazer dinheiro a partir da arte.”
Iberê começou, em 1958, a inserir em suas obras os carretéis, seus brinquedos de infância - o que, posteriormente, originaria uma das séries mais conhecidas de sua produção. Em 9 de agosto 1994, o artista faleceu, deixando um acervo de mais de sete mil obras. O legado do artista é o assunto da próxima reportagem da série Cem Anos de Iberê Camargo.