Lançado em 1954, como uma alegoria da destruição atômica causada pelos EUA em Hiroshima e Nagasaki, Godzilla foi responsável por criar um gênero próprio dentro do cinema e da cultura pop: o do monstro gigante destruidor de cidades. Mas, para a Warner Bros. e o diretor Gareth Edwards, o lagartão japonês bom de briga é uma excelente oportunidade para falar sobre... família.
Em Godzilla, que estreia hoje em cinemas de todo o país, em cópias Imax e 3D, tudo gira em torno da família - seja de humanos, seja de monstros. O tema já havia sido explorado por Edwards em seu longa anterior, Monstros (2010), mas agora ele despenca para pieguice completa. Em alguns momentos, parece que estamos em um filme de Steven Spielberg e que logo Godzilla vai montar numa cestinha de bicicleta e sair voando.
E olha que o roteiro não é dos piores, relacionando a existência de Godzilla - e criaturas semelhantes - a desastres naturais (como tsunamis) e tragédias mal explicadas, como acidentes em usinas nucleares. Segundo o filme, o bicho foi inclusive alvo dos testes com armamento atômico no atol de Bikini, em 1946 - eram, na verdade, tentativas frustradas de matar o monstro.
Sendo Godzilla uma espécie de predador alfa do mundo, só restou aos humanos, por meio de uma organização secreta, monitorar de longe o bicho. Até que a escavação de uma mina nas Filipinas desperta um casal de criaturas decidido a povoar o mundo, obrigando Godzilla a botar ordem na casa. Afinal, só pode haver um.
Mas ele só vai fazer isso, de fato, nos 20 minutos finais de filme, quando é cumprida a expectativa de ver o mítico monstro japonês devastar uma grande metrópole enquanto sai na porrada com um monstro bizarro qualquer. Godzilla, que sempre foi um sujeito desengonçado numa roupa de borracha, ganha trejeitos de lutador de MMA em sua nova versão - embora mantenha o visual original e o clássico raio atômico lançado pela boca.
O problema é que, até lá, acompanharemos o bocejante drama de Ford Brody (Aaron Taylor-Johnson, de Kick-Ass), militar do exército americano que foi para o Japão salvar o pai (Bryan Cranston, de Breaking Bad) e acabou separado da mulher e do filhinho durante o despertar das bestas. O rapaz fica o tempo inteiro correndo de um lado para o outro, ora tentando chegar até sua família, ora tentando salvar o planeta.
Brody só não está mais perdido que o personagem de Ken Watanabe, um cientista japonês estudioso das criaturas, mas que passa o filme inteiro trocando frases de efeito com um milico genérico de alta patente dos EUA e não ajuda em nada.
Desse jeito, fica fácil torcer pelo Godzilla.