O 1964 ficou marcado por personagens políticos e militares, culminando no golpe de Estado que mudou a história do país. No entanto, cinema, música e outras manifestações culturais também se destacavam na imprensa da época, fazendo parte do cotidiano daquele ano.
Tudo isso é relembrado em Almanaque 1964 (Companhia das Letras, 240 páginas, R$ 54,50), livro que a jornalista Ana Maria Bahiana lança nesta quarta, em Porto Alegre. A sessão de autógrafos ocorre às 19h, na Livraria Cultura, e terá bate-papo com o escritor e professor Luís Augusto Fischer.
Marcado por um olhar panorâmico sobre os principais fatos do ano, Almanaque 1964 se lança a compreender as importantes mudanças políticas pelas quais o Brasil passou nesse momento histórico e emblemático que completa 50 anos.
- Em um almanaque, há uma possibilidade rara de olhar para todos os lados de uma questão, inclusive os mais ínfimos e triviais, que, somados aos outros, oferecem ao leitor uma visão profunda, 3D, do que se passou - explica Ana Maria.
A jornalista, que já colaborou para diversos suplementos culturais da imprensa, tem experiência no formato do novo livro - é ela a autora de Almanaque Anos 70, publicado pela Ediouro em 2006.
No novo título, cada capítulo dá conta de um mês de 1964, com fotos, textos, destaques dos jornais e curiosidades. O convite para a elaboração do volume partiu da editora Companhia das Letras. Durante a segunda metade de 2013, Ana Maria se dedicou à leitura aprofundada de jornais e revistas da época. Trabalhando em sua casa, em Los Angeles, conta que chegava a perder a noção do tempo:
- Quando acabava o dia, eu ficava muito surpresa ao ver uma televisão colorida e ainda mais em HD - brinca a jornalista.
Mas nem tudo era engraçado entre os temas que a jornalista encontrou ao longo da pesquisa:
- Segui notícias como crise na Petrobras, subida do dólar, alta dos impostos, casos de racismo... Pareciam notícias de agora.
Ana Maria Bahiana destaca aspectos culturais de 1964:
> Cinema: "É um ano extraordinário para o cinema brasileiro, com Vidas Secas (Nelson Pereira dos Santos), Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha), Os Fuzis (Ruy Guerra) e Noite Vazia (Walter Hugo Khouri). Ainda teve o filme do Zé do Caixão (À Meia-Noite Levarei Sua Alma), no qual todos os críticos desceram o pau".
> Música: "A marca do ano é o sucesso do Jorge Ben. É também o começo da Jovem Guarda, quando sai É Proibido Fumar (Roberto Carlos), mas o movimento vai estourar em 1965".
> Livros: "A literatura é silenciada de cara. Há queima de livros, bibliotecas sendo invadidas... Marx, Engels, Jung, Freud eram jogados fora, considerados subversivos".
> Artes visuais: "É o ano em que Hélio Oiticica prepara seus primeiros Parangolés, algo que passa muito despercebido, mas depois se torna importante".
> Imprensa: "As notícias internacionais repercutiam de maneira muito seletiva, entre poucas pessoas. Na cultura, era mais fácil ter informações com amigos que viajavam do que lendo os jornais. De Gaulle era um personagem do qual se sabia tudo, já Che Guevara, nem tanto".