Talvez seja porque é o segundo vinho da região, feito a partir de uvas que, por uma razão ou outra, acabaram não sendo classificadas como as melhores; ou quem sabe por causa do status do Brunello di Montalcino, isto é, os vinhos de Montalcino, envolvidos em uma névoa de escândalo por vários anos, o que o tornou difícil de assimilar.
Qualquer que seja a razão, a verdade é que o Rosso di Montalcino não é muito respeitado.
Isso ficou bem evidente na degustação de vinte garrafas de safras lançadas recentemente. Eu gostei muito de todas e encontrei nos melhores exemplares expressões adoráveis da uva sangiovese que, como o Brunello, é a única uva permitida legalmente na produção do vinho. Os outros integrantes do painel, entretanto, não se convenceram.
- Acho que o Chianti dá de dez nestes aqui -disse o restaurateur Chris Cannon.
Os outros não foram tão explícitos, mas também não se animaram.
- Não fiquei entusiasmado, não - afirmou Levi Dalton, sommelier, crítico e apresentador do podcast "I'll Drink to That".
Florence Fabricant admitiu que eles são agradáveis.
- Mas muito poucos me impressionaram - disparou.
Sendo o único entusiasta do grupo, permitam-me então justificar a minha posição.
Para começar, o que é o Rosso di Montalcino? Simplificando, é uma categoria de vinho que pretendia facilitar a vida dos produtores do Brunello, que têm que manter a bebida pelo menos dois anos em barris e mais dois em garrafas antes de comercializá-los. É um investimento substancial. Já para o Rosso di Montalcino bastava pelo menos um ano, incluindo seis meses em barril de carvalho.
Então, qual é o problema? Talvez a natureza inerente a sangiovese cultivada em Montalcino, geralmente mais substanciosa e mais concentrada que a das zonas do Chianti. Como resultado, os bons Chiantis, nos quais a sangiovese têm um papel dominante mais não único, são mais delicados e possuem uma textura mais sofisticada. Os Montalcinos são mais densos e poderosos, sendo que os melhores combinam força e elegância.
Os vinhos, como observou Levi, podem ser inconsistentes (como também os Chianti); assim, é necessário definir tanto o estilo preferido como os produtores que se destacam.
Já em questão do valor, a questão é mais complexa.
O nosso vinho número 1, o LaTorre 2011, profundo, puro e focado, foi também o melhor em termos de preço, US$30; nada mal quando o Brunello pode chegar a US$50 ou US$60. De fato, o custo/benefício é excelente considerando-se a qualidade do vinho, mas não é barato.
A diferença é ainda mais gritante no caso da garrafa número 2, o Poggio di Sotto 2008, o mais antigo da leva. Eu acho que Poggio di Sotto é um dos melhores produtores de Montalcino que há. Seus vinhos são marcados pelo poder, finesse e pureza e seus Rossos envelhecem bem mais que o mínimo exigido antes de entrarem no mercado: dois anos em grandes barris de carvalho e seis meses em garrafas.
O 2008 é delicado, belo e delicioso, mas custa US$82, de longe o rótulo mais caro da degustação, ao lado do Rosso da Biondi-Santi, talvez o melhor produtor da leva, mas cujo vinho infelizmente não fez parte da degustação.
Com isso chegamos à questão do valor e do posicionamento do Rosso di Montalcino, como os marqueteiros gostam de dizer, como um "Baby Brunello". É um termo de responsabilidade, que sugere que se esteja adquirindo um Brunello a um preço mais baixo, o que não é o caso. Melhor encarar o Rosso simplesmente como uma introdução ao estilo do produtor. Pessoalmente eu investi nos Rossos Poggio di Sotto porque adoro o estilo, embora não possa arcar com o Brunello, cujo preço mínimo fica em torno de US$140/garrafa.
Nossos vinhos preferidos ficaram do lado mais austero do espectro; em terceiro, por exemplo, o Conti Costanti 2010 é bem estruturado, mas profundo e substancioso. Sem dúvida ficaria ainda melhor se envelhecido. O mesmo vale para o Fattoria dei Barbi 2011, rico, tânico, picante e com aroma de couro. Outros Rossos que exibiram estilo mais maduro e imediatamente acessíveis incluem o equilibrado Poggio Antico 2011, o denso e levemente adocicado Valdicava 2011 e o expressivo e perfumado Lisini 2011.
Embora o objetivo de nossas degustações seja o de fazer uma boa mostra da denominação, elas não são completas. Eu não hesitaria em procurar produtores como Il Paradiso di Manfredi, Mastrojanni e Gianni Brunelli.
Para concluir, a minha posição em relação ao Rosso di Montalcino é: depende muito do gosto do freguês. Eu sou fã da sangiovese em todas as suas manifestações toscanas e, sem dúvida, tenho sempre um lugar reservado para o Rosso na minha mesa.
Relatório da degustação: Rosso di Montalcino.
Melhores opções custo/benefício
3 estrelas : La Torre Rosso di Montalcino 2011, US$30
Sabor profundo e prolongado de frutas vermelhas e terra; ficaria ainda melhor com mais um anos ou dois de envelhecimento. (Rosenthal Wine Merchant, Nova York)
3 estrelas: Poggio di Sotto Rosso di Montalcino 2008, US$82
Sutil, discreto e delicado, com uma combinação adorável de sabores de cereja doce e ácida. (Kermit Lynch Wine Merchant, Berkeley, Califórnia)
3 estrelas: Conti Costanti Rosso di Montalcino 2010, US$45
Bem acabado e estruturado, profundo e com presença; precisa de mais tempo. (Empson USA, Alexandria, Virgínia)
2,5 estrelas: Fattoria dei Barbi Rosso di Montalcino 2011, US$23
Tânico e marcante, com sabores picantes de fruta escura e couro. (Frederick Wildman & Sons, Nova York)
2,5 estrelas: Poggio Antico Rosso di Montalcino 2011, US$37
Equilibrado e cheio de vida, com sabor puro e prolongado de cereja. (The Sorting Table, Napa, Califórnia)
2,5 estrelas: Valdicava Rosso di Montalcino 2011, US$34
Denso, mas cheio de vida, com sabor adocicado de frutas vermelhas. (Vinifera, Ronkonkoma, Nova York)
2,5 estrelas: Talenti Rosso di Montalcino 2010, US$23
Delicado e elegante, com sabores terrosos e marcantes de cereja e erva-doce. (HP Selections, Nova York)
2,5 estrelas: Lisini Rosso di Montalcino 2011, US$33
Intenso e expressivo, com aromas ricos e poderosos de fruta doce. (Soilair Selection, Nova York)
2 estrelas: Cerbaiona Rosso di Montalcino 2010, US $51
Jovem e tânico, com sabores de pura fruta; precisa de mais tempo. (The Rare Wine Co., Vinesburg, Califórnia)
2 estrelas: Uccelliera Rosso di Montalcino 2011, US$22
Rico e ao mesmo tempo focado, com sabor marcante de fruta e um toque de carvalho. (Marc de Grazia Selections, Winston-Salem, Carolina do Norte)
O que as estrelas significam
A avaliação, até quatro estrelas, reflete a reação do painel aos vinhos, que foram saboreados com os rótulos cobertos. A seleção feita geralmente é encontrada nas boas lojas do ramo, em restaurantes e pela internet. Os preços são os praticados na região de Nova York. Coordenador da degustação: Bernard Kirsch.