Em 1985, o resultado positivo para o vírus HIV era como uma sentença de morte. O americano Ron Woodroof foi informado pelo médico de que teria 30 dias de vida. Durou mais sete anos, perseverança que é tema do Clube de Compras Dallas, filme que estreia nesta sexta-feira no cinemas.
Indicado ao Oscar em seis categorias, incluindo a de melhor filme, o longa dirigido pelo canadense Jean-Marc Vallée tem como trunfo Matthew McConaughey no papel de Woodroof, em uma atuação memorável que faz dele o favorito para erguer a estatueta no dia 2 de março - sua performance já foi reconhecida com, entre outros prêmios, o Globo de Ouro na categoria drama e o troféu do sindicato dos atores, principais termômetros do Oscar.
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Woodroof não tem o perfil recorrente dos personagens retratados em filmes que têm a aids como tema. É um eletricista que circula pelo universo dos rodeios do Texas. Encarna o típico caubói machão e homofóbico - no começo do filme, ele faz comentários jocosos sobre a morte do galã Rock Hudson, uma das primeiras personalidades vitimadas pela aids, em 1985. Seu tempo livre é para bebedeiras com os amigos, cocaína e sexo com as mulheres que orbitam ao redor daquele ambiente que transpira testosterona.
Quando a saúde progressivamente fragilizada o leva ao hospital, Woodroof recebe o diagnóstico do que, naqueles tempos de desinformação e preconceito, era chamado de "câncer gay". O filme destaca o empenho do protagonista por uma alternativa de tratamento que seria o caminho para salvar milhões de vidas. À época do conservador governo Reagan, o combate a aids tinha em seus bastidores um milionário lobby da indústria farmacêutica.
Woodroof foi buscar tratamento na combinação de substâncias não autorizadas, cujos bons resultados na sobrevida dos infectados chamaram a atenção, sobretudo, da comunidade gay. O título do filme faz referência ao expediente que ele usou para oferecer o tratamento a mais pessoas, vendo nisso também a oportunidade de lucro.
Vallée, que tem no currículo o ótimo C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor (2005), sobre os conflitos existenciais e familiares de um jovem gay, acerta ao não mostrar Clube de Compras Dallas como um conto moral. Temas como solidariedade e tolerância estão presentes, sobretudo na aproximação de Woodroof com Rayon, travesti interpretado por Jared Leto (indicado ao Oscar de coadjuvante). Mas o que se impõe na narrativa é a determinação e o pragmatismo que movem alguém com as horas contadas, sem tempo para perder com reflexões mais profundas além do desejo de acordar no dia seguinte.
