Em dezembro de 2013, a edição em inglês do jornal israelense Haaretz, um dos mais importantes daquele país, publicou uma reportagem com título que soa irônico: "Israelenses estão chocados ao descobrir: há mais de um judaísmo". Soa irônico porque parece evidente - pelo menos a nós, brasileiros - que há diversas formas de se praticar qualquer religião. No Brasil, a vasta maioria dos judeus pertence a vertentes não ortodoxas. Mas não é bem assim em Israel, onde a população judaica se divide, grosso modo, entre seculares e ortodoxos.
A reportagem trata do fenômeno da "pequena, mas crescente" porcentagem da população israelense adepta do judaísmo progressista - ou seja, liberal. Esse grupo, que não se pauta pela ortodoxia, subdivide-se em conservador (meio liberal) e reformista (mais liberal). O texto cita uma pesquisa divulgada em junho de 2013 pelo Israel Democracy Institute, em Jerusalém, segundo a qual 3,2% dos israelenses se consideram conservadores e 3,9% são adeptos do reformismo. Ou seja, no total são 7,1% de israelenses identificados com as vertentes progressistas - que se diferenciam das ortodoxas e dos seculares. Parece pouco, e é. Mas era ainda menos em 1993, quando havia 1,6% de conservadores e 2% de reformistas (3,6% no total). Concluindo: em 20 anos, a porcentagem de judeus religiosos liberais dobrou em Israel (que fique claro que não estamos contando os judeus seculares, aqueles que não se identificam com a religião).
Agora: o que você tem a ver com isso? Eu digo que todo aumento na proporção de adeptos progressistas de qualquer religião deve ser comemorado. Os ateus provavelmente argumentarão que o melhor mesmo é não ter religião. Mas não sou do tipo que deseja que as religiões sumam da face da Terra. Primeiro, porque isso é impossível. Depois, porque não devemos querer apagar o papel importante que têm na história da humanidade. Mas, se o assunto é religião, sou simpatizante das vertentes progressistas, que são mais igualitárias no que diz respeito à posição das mulheres e mais tolerantes sobre temas como a união de pessoas do mesmo sexo, apenas para citar alguns exemplos. O que fazemos quando a tradição é machista ou preconceituosa? Mude-se a interpretação. Mude-se a tradição.
Já ouvi muita gente, de diversas religiões, justificar posições duvidosas com base nos textos sagrados. Está lá na Bíblia Hebraica, também conhecida como o Antigo Testamento: o homem que se deitar com outro homem como se fosse mulher pratica coisa abominável. E logo adiante a Bíblia diz que eles serão mortos. As pessoas que se juntarem com animais também serão mortas. Assim como os animais. Nunca entendi essa parte. Por que os animais também?