Como seria seu time de futebol favorito sem jogadores negros? A dúvida está na ponta da língua de um dos personagens de Namíbia, Não!.
Na verdade, ele está se perguntando como seria o Brasil inteiro sem negros, pois na peça - sucesso de crítica e público - eles estão prestes a ser expulsos do país.
A trama começa quando um advogado decide processar o Estado brasileiro e solicitar uma indenização histórica à população negra. A chamada "reparação social" custaria R$ 900 bilhões, um desfalque inconcebível aos cofres públicos, e opta-se por outra solução: já que eles se queixam de terem sido trazidos ao Brasil à força, melhor é deportá-los de volta para a África. Nesse Brasil apresentado na peça Namíbia, Não! já não se fala mais em negro nem em afrodescentente, mas em cidadãos de melanina acentuada. Ambientada em 2016, ano de Olimpíada, a trama é conduzida em clima de comédia. A receita, que inclui boas doses de absurdo e ironia, já atraiu mais de 50 mil espectadores desde sua estreia, em 2011. Neste final de semana, o espetáculo dirigido por Lázaro Ramos enfim chega a Porto Alegre para duas apresentações no Theatro São Pedro, sábado, às 21h, e domingo, às 18h.
- A comédia desarma um pouco as pessoas. Os assuntos do espetáculo são muitas vezes discutidos como questões sociais e não como questões humanas. Por ser um espetáculo leve, apesar de falar sobre um assunto mais pesado, as pessoas vão se deixando levar pelas emoções e isso pra mim é uma coisa muito boa, é o que traz uma contemporaneidade para a discussão sobre política afirmativa, preconceito, relações familiares - conta o ator e diretor.
No palco, os atores Flávio Bauraqui e o próprio autor do texto, Aldri Anunciação, interpretam os primos André, um estudante do curso de Direito, e Antônio, um aspirante a uma vaga de diplomata no Itamaraty. Eles estão confinados em um apartamento, com medo da deportação, e oscilam entre se entregar às autoridades ou lutar para ficar no país. Quem assiste pode ficar na dúvida também, é isso que eles tentam provocar.
É a primeira peça adulta dirigida por Lázaro Ramos, que já exerceu a função em dois espetáculos infantis, um monólogo e, há nove anos, conduz o programa Espelho no Canal Brasil. Ele não esconde a expectativa para a nova atividade:
- Estou achando que é o caminho mais natural mesmo, dirigir filmes, mais peças de teatro... Eu tenho um prazer enorme fazendo isso.
Namíbia, Não! angariou o Prêmio Braskem de Teatro, na Bahia, em 2011, e em 2010 recebeu o Prêmio Fapex, ambos na categoria melhor texto. A autoria é de Aldri Anunciação, que transformou o roteiro em livro (Edufba, 2012) contemplado com o prêmio Jabuti na categoria juvenil (2013). Após as apresentações, o ator-escritor fará sessão de autógrafos do livro, que estará a venda por R$ 20.
A equipe da peça promove ainda o bate-papo Encontro - Um Diálogo do Público com o Artista sobre o processo de criação do espetáculo e do livro e as possibilidades de um teatro político. Será nesta segunda, das 13h às 15h, na Sala Multipalco do Theatro São Pedro, mediante inscrição prévia no site www.namibianao.com.br e com lotação restrita a 50 pessoas.
Assista a trechos da peça Namíbia, Não:
NAMÍBIA, NÃO!
Sábado, às 21h, e domingo, às 18h.
Duração: 1h10min. Classificação: 14 anos
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro s/n), (51) 3227-5100.
Onde estacionar: no Multipalco (entrada pela Rua Riachuelo), a RS 15.
Ingressos: a R$ 20 e R$10 (meia-entrada válida para os casos previstos em lei), à venda na bilheteria do TSP (sábado, das 15h às 21, e domingo, das 15h às 18h). Desconto: 20% para sócio do Clube do Assinante.
A peça: dois homens, interpretados por Flávio Bauraqui e Aldri Anunciação, estão confinados em um apartamento, com medo da deportação para a África, por conta de uma lei de reparação à população negra. Direção de Lázaro Ramos.
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