A notícia da associação entre o músico João Gilberto e o banqueiro Daniel Dantas, publicada pela revista Época no fim de semana, altera a história do processo movido por João contra a sua gravadora, a EMI.
O advogado da gravadora, acusada por João de adulterar três de seus discos fundamentais, diz que o cenário agora é outro.
- Mudou tudo. João não disse a ninguém que tinha recebido R$ 10 milhões. Seus argumentos sempre foram de que estava sem dinheiro, de que precisava de suas masters para poder trabalhar nelas. Isso é balela - afirma o advogado da EMI, Raphael Miranda.
Segundo a reportagem de Época, Daniel Dantas, dono do banco Opportunity, fez um contrato com João no qual lhe adiantaria R$ 10 milhões em troca de metade da quantia milionária que João pode receber da EMI se a Justiça mantiver a condenação de pagamento de indenização equivalente a 24% do valor dos CDs vendidos. Advogados do músico calculam que esse valor pode chegar a R$ 100 milhões. A gravadora fala em R$ 1,2 milhão.
A assessoria de imprensa de Dantas, que não se pronuncia sobre o assunto, confirmou à reportagem a veracidade das informações, e acrescentou que as negociações entre Dantas e João foram feitas sem intermediários. Claudia Faissol, que tem uma filha com João e também responde por ele, assim como seus advogados, não responderam aos pedidos de entrevista.
Além de ter garantida metade da indenização almejada por João, Daniel terá também, segundo o contrato que teria sido assinado com o músico, o direito a 60% dos direitos autorais dos discos Chega de Saudade, João Gilberto e O Amor, O Sorriso e a Flor, todos gravados entre o fim dos anos 1950 e início dos 1960 e fundamentais na construção estilística da bossa nova. Os direitos pertencem hoje a João e à EMI.
Uma nova briga, no entanto, seria encampada para que João, depois de reaver suas masters, conquistasse a exclusividade de seus direitos. Assim sendo, Dantas passaria a receber tais direitos para sempre. O advogado da EMI afirma que, segunda-feira, informou à Justiça que seus instintos se confirmaram.
- Sempre dissemos que, se essas masters saíssem da EMI, poderiam cair em mãos erradas e jamais serem recuperadas. Foi um erro dar a guarda das fitas ao artista.
Uma perícia será feita em breve para atestar a legitimidade dos discos de João, que já estão com o músico por determinação da Justiça, até que todas as instâncias se pronunciem. Miranda adianta que não haverá proposta de negociação por parte da gravadora.
- Esse homem não tem credibilidade no mercado. Se esconde atrás da mítica de excêntrico para conseguir apoio, mas o que ele quer mesmo é dinheiro. E falo isso em on - afirma.