Não há nada mais anacrônico do que jovens saudosos de uma época que não viveram. Ao caírem nessa armadilha, algumas composições de Selvagens à Procura de Lei, disco homônimo da banda formada em Fortaleza há três anos, soam empoeiradas.
Brasileiro é o carro-chefe do segundo disco do grupo. No videoclipe, enquanto os guris cantam que aqui "o ano só começa quando passa fevereiro" e a música não é "para a cabeça, mas feita para o pé", as imagens mostram a banda pintando a cara de verde e amarelo, numa referência às manifestações políticas de 20 anos atrás.
- Se a nossa geração compusesse pensando que as músicas vão narrar a história, a gente teria mais bandas importantes. Quem você vê falando do que está acontecendo? - diz o vocalista e guitarrista, Gabriel Aragão.
Quando se desprende do referencial contestatório, de Cazuza a Renato Russo, a banda se destaca por seus bons músicos. Em Despedida, melhor faixa do disco, escancara sem vergonha a inspiração brega em gente como Roberto Carlos e Fagner, além de um vocal escrachado (mas bom) que imita Tim Maia. O disco fecha com O Amor Existe, Mas Não Querem que Você Acredite. Novamente, os guris deixam clara a inspiração em renegados da MPB - nesta faixa, tudo lembra Odair José.
Os Selvagens, apesar de acharem o contrário, se dão melhor quando fazem rock sem engajamento. Erram a mão ao querer soar como a voz de sua geração e tornam-se apenas réplicas de um Capital Inicial fora da data de validade. As melhores canções são sobre amor não correspondido, mulheres que gostam de outro e romances que terminaram mal.
Selvagens à Procura de Lei
Rock, Universal Music, 12 faixas
R$ 18,90 (em média)
Cotação: 3, de 5 estrelas