Um pelotão de pesquisadores de diversas áreas uniu esforços para montar um grande painel sobre o atual momento da literatura brasileira - no Brasil, no Exterior e dentro das redes sociais. Os resultados do estudo Movimentos Atuais da Literatura Brasileira, encomendado pelo Itaú Cultural, foi divulgado na tarde de quarta-feira, pouco antes do início da programação oficial da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que se encerra neste domingo. Além dos pesquisadores, participaram da mesa Claudiney Ferreira, responsável pela área de literatura do Itaú Cultural, Renato Lessa, da Biblioteca Nacional, José Castilho, secretário-executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), e o escritor Luiz Ruffato.
As pesquisas apresentadas abrangem a área de estudos literários (quais autores brasileiros têm sido mais estudados dentro e fora do Brasil), um balanço do boom de eventos em torno da literatura dos últimos 10 anos e as preferências literárias de usuários de Facebook e Twitter. Doutoranda em literatura pela UnB, Laeticia Jensen Eble apresentou um estudo sobre os autores mais citados nos currículos disponíveis na Plataforma Lattes do CNPq. Machado de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Graciliano Ramos lideram o placar das preferências dos acadêmicos, em uma lista em que também aparecem os gaúchos Erico Verissimo (24º), Caio Fernando Abreu (27º), João Gilberto Noll (31º), Mario Quintana (37º), Lya Luft (46º) e Simões Lopes Neto (53º). Entre os autores vivos, os mais estudados são Milton Hatoum, que abriu a Flip na quarta-feira à noite com uma conferência sobre Graciliano Ramos, Rubem Fonseca e Manoel de Barros. João Gilberto Noll aparece em quinto lugar, atrás de Chico Buarque. O estudo apresentou ainda dados sobre as premiações literárias, mostrando que a grande maioria das distinções do Brasil destaca trabalhos inéditos (79,26%) e de poesia (93,90%). Entre os prêmios mais altos, aparecem o São Paulo de Literatura (R$ 400 mil), o Prêmio Moacyr Scliar (R$ 180 mil) e o Prêmio Passo Fundo Zaffari&Bourbon (R$ 150 mil).
Sobre a presença da literatura em livros didáticos e no Enem, Laeticia Jensen Eble mostra que, entre os autores mais citados, Drummond, Fernando Pessoa e Manuel Bandeira lideram uma lista em que aparecem ainda os quadrinistas Laerte, Fernando Gonsales e Dik Browne. A pesquisa ainda apresenta um estudo desenvolvido por pesquisadores da UFRGS, sob orientação do professor Luís Augusto Fischer, que aponta que a literatura brasileira "stricto sensu" vem perdendo espaço nos exames para questões que usam textos de jornal e quadrinhos como base.
Professor de literatura comparada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), João Cezar de Castro Rocha examinou os estudos de literatura brasileira no Exterior. O país em que mais se estuda literatura brasileira é os Estados Unidos, seguido de longe por França e México. A grande surpresa é que a maior parte desses pesquisadores não é estrangeira, mas formada por brasileiros que estudam literatura brasileira fora do país. Ou seja, hoje em dia o perfil majoritário do chamado "brasilianista" é o do próprio brasileiro que se especializou em instituições do Exterior.
O jornalista e antropólogo Felipe Lindoso apresentou um levantamento sobre eventos literários no Brasil. Neste item, o Rio Grande do Sul é "hors concours". Além de ter a feira do livro mais antiga do Brasil, o Estado realiza cerca de 130 eventos desse tipo ao longo do ano (contra 27 do segundo colocado, São Paulo).
Fábio Malini, doutor em Comunicação e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), apresentou um estudo sobre as relações entre a literatura e os usuários de redes sociais. Se Machado de Assis e Guimarães Rosa lideram as preferências entre os acadêmicos, Clarice Lispector (743 mil fãs no Facebook) e Caio Fernando Abreu (373 mil) são os preferidos dos internautas, seguidos pelo fenômeno recente da popularização do poeta Paulo Leminski (32 mil) nas redes sociais desde o lançamento da coletânea Toda Poesia, que desbancou 50 Tons de Cinza entre os mais vendidos nas livrarias. Malini destacou o papel dos mediadores culturais para o sucesso nas redes. Dos cinco maiores responsáveis pelo fenômeno Leminski na internet, estão duas atrizes de novela: Nanda Costa (protagonista da última novela das oito da Globo) e Mel Fronckowiak (atriz e cantora da novela adolescente Rebeldes) citaram Leminski em suas redes, gerando inúmeros compartilhamentos - e, pelo visto, muitas compras do livro em papel também.
Autores mais citados por pesquisadores doutores
de literatura brasileira:
> Machado de Assis
> Guimarães Rosa
> Clarice Lispector
> Graciliano Ramos
> Mario de Andrade
Número de fãs no Facebook:
> Machado de Assis - 38.642
> Guimarães Rosa - 2.431
> Clarice Lispector - 743.000
> Graciliano Ramos - 588
> Mario de Andrade - 18
Autores vivos mais citados
por pesquisadores doutores
de literatura brasileira:
> Milton Hatoum
> Rubem Fonseca
> Manoel de Barros
> Chico Buarque
> João Gilberto Noll
Autores mais
estudados no Exterior:
> Machado de Assis
> Clarice Lispector
> Guimarães Rosa
> Jorge Amado
> Carlos Drummond de Andrade
Autores vivos mais
estudados no Exterior:
> Chico Buarque
> Milton Hatoum
> Rubem Fonseca
> Antonio Candido
> Bernardo de Carvalho
Autores mais citados
em livros didáticos no Brasil:
> Carlos Drummond de Andrade
> Fernando Pessoa
> Manuel Bandeira
> Luís de Camões
> Oswald de Andrade
> Laerte
Feiras/festivais de
literatura realizados por
ano no Brasil, por Estados:
> Rio Grande do Sul 130
> São Paulo 27
> Rio de Janeiro 24
> Minas Gerais 14
> Santa Catarina 10
Movimentos da literatura brasileira
Pesquisas e estudos apresentados na Flip, em Paraty, reúnem dados sobre circuito literário no país
Machado de Assis é apontado como o autor brasileiro mais pesquisado por doutores no país e no exterior e Caio Fernando Abreu como um dos mais "curtidos" no Facebook
Cláudia Laitano
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