Ricardo Alexandre, autor do livro Dias de Luta - O Rock e o Brasil dos Anos 80, lista as canções dos anos 1980 que seguem atuais.
O Dotadão (1989), dos Cascavelletes
"Acho que as bandas que bebiam mais no rock clássico dos anos 1950 ou 1960 são as que sobreviveram melhor porque flertavam menos com a tecnologia, dependiam menos do aspecto contemporâneo daquela época. Os Cascavelletes eram quase uma banda da invasão britânica naquela época e acho que essa música sobreviveu muito bem."
Popstar (1985), João Penca & Seus Miquinhos Amestrados
"Não foi um grande hit pelo menos fora do Rio de Janeiro naquela época, mas vem sendo redescoberto com uma certa frequência. Se você ouvir hoje, continua sendo tão divertida, impactante e nonsense quanto ela era em 1985." Os Miquinhos tinham muita influência de jovem guarda e de rockabilly, mas nessa fase eles conseguiram flertar com a new wave com um resultado muito interessante.
Mania de Você (1979), Rita Lee
"A Rita era uma pessoa que vinha dos anos 60, atravessou os anos 70 como uma roqueira de fé e foi avançando dentro dos anos 80 rumo à frustração. No livro ela dá varias declarações do quão frustrada estava por estar militando num cenário super infrutífero, sem chegar a lugar nenhum, do ponto de vista comercial. Eu acho que nessa música ela conseguiu encontrar o pote de ouro para fazer um pop perfeito. "
Dias de Luta (1986), Ira!
"Foi uma banda que tinha uma dignidade que era um signo muito forte para quem era adolescente. Era uma coisa de postura, de uma integridade que com o passar do tempo se mostrou não tão verdadeira haja visto o fim melancólico do Ira! Mas nessa época eles tinham essa coisa do existencialismo juvenil que é atemporal, também bebiam muito nos anos 60 e ao mesmo tempo tinham uma fixação grande pela literatura juvenil."
Miséria (1989), Titãs
Contrariando a minha tese de que as músicas que sobreviveram melhor abusaram menos da tecnologia, Miséria é uma música absolutamente tecnológica, abusa dos samplers, das sequências computadorizadas, mas tem uma marca brasileira tão poderosa, tanto na parte lírica quanto na parte rítmica, que ela continua sendo futurista, pós-moderna, 20 anos depois.