*Matéria publicada originalmente em 13 de maio de 2008 (jornal Zero Hora)
A segunda mesa do Fronteiras do Pensamento Copesul Braskem 2008, realizada ontem, tinha como tema central o teatro. Mas os excêntricos e performáticos palestrantes fizeram mais do que falar sobre a sua arte.
O dramaturgo espanhol Fernando Arrabal e o teatrólogo brasileiro Gerald Thomas relataram experiências pessoais e demonstraram suas visões muito particulares do mundo. O segundo saiu do palco abruptamente e acabou vaiado pelo público do Salão de Atos da UFRGS.
A briga que tiveram na véspera marcou o dia dos palestrantes. Perguntado sobre Thomas na entrevista coletiva que concederam antes do evento, Arrabal apenas murmurou: - Nunca ouvi falar dele.
Gerald foi mais prolixo: - Esse sujeito só fez uma peça. E copiada. Agora vem ter ciúme da minha relação com (o dramaturgo Samuel) Beckett (1906 - 1989).
Thomas, 54 anos, diretor de montagensviscerais como Electra com Creta, foi um colaborador de Beckett no início dos anos 80. Arrabal, 76 anos, um dos criadores do movimento que ficou conhecido como Teatro Pânico, célebre autor de peças como Cemitério de Automóveis, foi amigo pessoal do irlandês, desde décadas antes.
Em comum, além da veia revolucionária, os dois têm aquilo que o espanhol chamou de "desterramento".
- Sou um desterrado porque a ditadura do general Franco (presidente entre 1939 e 1973) não me deixava trabalhar. Mas a diáspora me levou a conquistar a glória - disse Arrabal, que hoje vive entre Paris e Nova York.
Thomas, que passou um vídeo sobre sua obra e falou por menos de 20 minutos antes de abandonar o local, repetiu seu já conhecido discurso de desilusão para com o teatro atual - que classificou de "mero entretenimento de uma pequena burguesia" - e relatou sua experiência como colaborador do pré-candidato à presidência dos EUA, Barack Obama.
- Sempre fui político, mas as coisas chegaram a um ponto em que não dá mais para ficar sem fazer nada. É preciso se envolver. É preciso tirar Bush do poder - pregou.
Dentro do Salão de Atos, enquanto teve elementos para refletir sobre a condição do artista no mundo contemporâneo, a platéia os aplaudiu. Do lado de fora, para evitar um novo e constrangedor choque de egos, até as áreas vip reservadas a cada um dos palestrantes tiveram de ser separadas.