Será que a conduta humana, inclusive aspectos tão pessoais como a generosidade, a confiança ou a capacidade de amar, dependeriam de uma molécula? O neuroeconomista americano Paul Zak, que faz conferência em 04 de novembro no Fronteiras do Pensamento, acredita definitivamente que sim. E mais: Zak aposta que nossas decisões econômicas têm um impulso hormonal.
A molécula em questão é a oxitocina, hormônio que é produzido em maiores quantidades principalmente pelas mulheres no momento do parto e durante a amamentação. Essa substância seria um dos responsáveis pelos comportamentos considerados moralmente aprováveis, por sentimentos como compaixão, confiança, dentre outros. Inclusive, seria a oxitocina a molécula que faz roedores tolerarem outros membros da espécie em tocas apertadas, por exemplo, e impulsionaria outras ações de confiança e cooperação entre animais. A oxitocina foi descoberta em 1909, por Henry Dale, mas foi Paul Zak o primeiro a relacionar a molécula com a área econômica.
Diretor do Centro de Neuroeconomia da Universidade Claremont, na Califórnia, e professor de neurologia no Centro Médico da Universidade de Loma Linda, Zak defende que a oxitocina é principalmente o hormônio responsável pelas relações de confiança na sociedade e na economia. Graduado em matemáticas e economia, com doutorado em economia pela Universidade de Pensilvânia, Zak estudou imagens do cérebro e identificou o papel do hormônio na mediação de comportamentos de confiança entre seres humanos.
Em 2000, o pesquisador demonstrou que países com taxas mais altas de confiança entre as pessoas eram também aqueles mais prósperos. Assim começou a pensar sobre as relações entre confiança, empatia e generosidade.O neuroeconomista constatou que, quando os voluntáriosde suas pesquisas inalavam oxitocina, eles se tornavam mais dispostos a confiar seu dinheiro a um desconhecido. E funcionava só entre pessoas, não quando se tratava de investir por meio de dispositivos como computador ou celular.
Fabian Domingues, professor das Faculdades Rio-Grandenses (FARGS), mestre em Filosofia e doutorando em Economia, lembra que Paul Zak foi primeiro a tornar público o
termo "neuroeconomia", estando na vanguarda desta nova fronteira do conhecimento.
- Ele é fundador e atual administrador do primeiro doutorado em neuroeconomia do mundo, na Universidade de Claremont. O objetivo desta nova área do conhecimento é investigar como as pessoas tomam decisões econômicas e sociais a partir do estudo do funcionamento da química do cérebro -explica o professor.
Os experimentos de laboratório feitos pelo americano retomam a teoria dos sentimentos morais de Adam Smith, buscando fundamentá-la nos processos bioquímicos presentes em nossos sentimentos. Em A Riqueza das Nações, o economista escocês defendia a tese de que o crescimento econômico provinha da busca do interesse próprio. Smith, no entanto, também defendia que o homem é, por natureza, um ser com compaixão. Para Zak o nome dessa compaixão é a oxitocina.
Domingues acha que as contribuições de Zak têm um vasto campo de aplicação, entre eles: expandir a fronteira do conhecimento da teoria econômica moderna a partir das contribuições da neurociência, entender melhor como ocorrem as negociações e melhorar o tratamento de pacientes com disfunções neurológicas e psiquiátricas.
Paul Zak no Fronteiras do Pensamento
04 de Novembro de 2013, às 19h30, no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110 - Porto Alegre - RS)
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