*Matéria publicada originalmente em 02 de setembro de 2008 (jornal Zero Hora)
Philip Glass é um dos compositores mais influentes da música contemporânea, mas o assunto que prevaleceu durante a passagem do norte-americano por Porto Alegre, ontem, foi o cinema.
Primeiro porque Glass coleciona indicações ao Oscar por suas trilhas sonoras. Segundo porque o compositor confessou estar desanimado com a produção hollywoodiana. Na tela grande, lamenta Glass, não há espaço para a verdadeira arte.
Em sua participação no seminário Fronteiras do Pensamento, ontem à noite, Glass falou de arte, cinema e música, intercalando suas observações com trechos de suas composições intepretadas ao piano. Na platéia, estava a cantora, compositora e artista performática Laurie Anderson, que está na Capital para um show hoje como parte da programação do Porto Alegre Em Cena.
Anderson é amiga de Glass e ambos já trabalharam juntos no álbum Songs for Liquid Days. À tarde, em entrevista coletiva, o compositor, revelou por que, depois de assinar trilhas famosas, como as dos filmes O Show de Truman e As Horas, afastou-se do cinema:
- A principal mudança que observei nas últimas décadas foi no que se espera da arte. Nos anos 60, (Jean-Luc) Godard e (François) Truffaut tinham o conceito de cinema como algo autoral. Nos últimos 20 ou 30 anos, o cinema écontrolado por produtores e estúdios. A primeira informação que lemos sobre um filme é a bilheteria que ele fez na semana de estréia.
Não é o caso, explicou Glass, de negar a importância da arte popular.
- Na Europa Ocidental, arte e entretenimento sempre coexistiram. Verdi e Puccini, por exemplo, eram populares, ganharam dinheiro. Mas hoje em dia até projetos artísticos financiados antecipadamente, que não visam lucro, são considerados apenas pela quantidade de público que vai assistir. Van Gogh não vendeu um único quadro em vida, e seu irmão era um marchand - exemplificou o compositor.
Depois, lembrou histórias engraçadas sobre o Brasil, onde se apresenta regularmente desde a década de 90. O filho mais velho do compositor mora em Natal (RN). Glass também fez questão de negar o rótulo de minimalista pelo qual é conhecido. - Isso foi inventado por jornais. Mas tudo bem, foi uma decisão editorial para criar um termo curto que não diz muita coisa - ironizou.