Ao se comparar o que se vê de quatro anos para cá com a realidade vivida por pelo menos três décadas sob o jugo do poder paralelo dos traficantes, a ocupação do morros cariocas pela polícia pode parecer o caminho para solucionar um grande drama social com reflexos no país inteiro.
O documentário 5 x Pacificação, em cartaz a partir desta terça-feira no CineBancários (Rua General Câmara, 424), faz um inventário do tema destacando avanços e apontando o muito que ainda precisa ser feito para que o poder público se faça presente por completo nestas localidades.
A engrenagem é complexa, e nela precisam girar, junto com a percepção de maior segurança gerada pelas chamadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), peças fundamentais como educação, emprego e cidadania.
5 x Pacificação dá continuidade ao projeto 5 x Favela - Agora por Nós Mesmos (2010), coordenado pelo cineasta Cacá Diegues, um dos realizadores de Cinco Vezes Favela (1962), filme coletivo simbólico do cinema novo. O novo longa mantém a estrutura episódica do antecessores, ambos com histórias de ficção que reproduziam situações da vida nos morros cariocas.
Os jovens diretores Wagner Novais, Luciano Vidigal, Cadu Barcellos e Rodrigo Felha (também presentes no filme de 2010) mostram, em 5 x Pacificação, a realidade que conhecem bem - à época das filmagens, Barcellos era o único que não morava em comunidade pacificada. Eles ouvem todas as partes envolvidas: de autoridades a ex-traficantes que mudaram de vida antes de serem mortos ou presos.
5 x Pacificação apresenta múltiplas vozes sobre o tema, entre elas as que se mostram céticas com o futuro da iniciativa. Mas o filme destaca que há razões para comemorar. O poder público, por anos ausente nessas regiões, busca mudar a percepção da comunidade sobre o policial. A ONG AfroReggae criou um braço (gerenciado por ex-bandidos) voltado a encaminhar jovens ao primeiro emprego.
Se o Estado e a sociedade abraçarem esses garotos com o mesmo empenho com que eles eram abraçados pelos traficantes, mostra o filme, o caminho, mesmo que vencido aos trancos, pode ser este. O documentário tem sessões às 15h, às 17h e às 19h (exceto segunda-feira), até 24 de março.