O português de origem angolana Valter Hugo Mãe, um dos quatro finalistas na categoria romance do Prêmio Portugal Telecom de Literatura, queria que seu concorrente Bernardo Kucinski ganhasse.
- Ele levanta uma questão muito digna e por isso achei que ele deveria ganhar. As pessoas precisam ler K.
Já o artista plástico Nuno Ramos, finalista em poesia, torcia por Zulmira Ribeiro Tavares.
- Vesúvio é um livro lindo, definitivo, merecia ganhar.
Mas a torcida de nada adiantou e o prêmio foi dado aos dois mesmo - a Hugo Mãe por A Máquina de Fazer Espanhóis (Cosac Naify) e a Nuno por Junco (Iluminuras).
O terceiro prêmio, para o melhor título de conto ou crônica, foi para O Anão e a Ninfeta (Record) e seu autor, Dalton Trevisan, como esperado, não foi à cerimônia na noite de segunda-feira no Auditório do Ibirapuera. A apresentação foi da atriz Maria Fernanda Cândido e de Arnaldo Antunes, que também cantou.
Os três ganharam R$ 50 mil e concorreram, entre si, ao prêmio de melhor livro do ano, faturado por Valter Hugo Mãe. Por isso, ganhou outros R$ 50 mil. Esta foi a primeira edição desde a mudança no regulamento. Até então, os três primeiros colocados - não havia divisão em categoria - ganhavam R$ 100 mil, R$ 35 mil e R$ 15 mil.
Hugo Mãe, que chegou a São Paulo depois de passar uma semana em Angola, país onde nasceu, em 1971, mas que nunca tinha visitado, para "compor a memória ficcional" de sua família, falava devagar na premiação enquanto atinava a novidade.
- Cresci escrevendo muito, mas não acreditava que pudesse conquistar coisa nenhuma. Nunca sequer sonhei em ser escritor. Achava que escrevia para mim, para fazer a manutenção dos meus dias, para suportar os dias. É incrível estar aqui hoje.
A Máquina de Fazer Espanhóis é um livro delicado, narrado por um homem de 84 anos que se muda para um asilo depois da morte da mulher. Para a crítica Leyla Perrone-Moisés, da comissão julgadora, houve raro consenso em torno do livro. "Valter é um escritor que tem domínio da linguagem, humor, sensibilidade, seriedade e compreensão do ser humano."
O português se disse "lerdo de felicidade". Ele já tinha livros publicados aqui quando veio à Flip em 2011, mas foi ali que foi descoberto. No palco, leu uma declaração de amor ao Brasil, chorou e fez chorar. Agora, pensou:
- Se acontecer alguma coisa não posso chorar. Não posso fazer isso sempre. Estou indo para o hotel, chorar lá que ninguém vê - brincou.
Leyla destacou também o talento múltiplo de Nuno Ramos e disse ser difícil conciliar a obra com sua imagem.
- Ele parece um menino e não é nada triste. E a obra dele é de um peso.
Junco é seu primeiro livro de poesia. Em 2009, o artista venceu o Portugal Telecom com "õ".
- O prêmio me deu um lugar. Foi como se minha voz pudesse ser mais dignificada.
Ele deve lançar novo livro de poemas em 2013. K., de Bernardo Kucinski, ganhou menção especial. O título é situado na ditadura militar, escolha rara na literatura brasileira.