Um dos mitos mais resistentes da indústria cinematográfica, os zumbis finalmente chegam a Porto Alegre. Mas eles não estão sozinhos em Porto dos Mortos, filme do diretor Davi de Oliveira Pinheiro que estreia neste final de semana.
Além dos mortos-vivos, se aventuram por uma devastada capital gaúcha pistoleiros canibais, detetives sobrenaturais armados com espadas ninja, espíritos malignos, sobreviventes fanáticos por doce de coco e um reluzente Maverick.
A história é a ancestral disputa do bem contra o mal. De um lado, está um policial decaído (Rafael Tombini), sujeito solitário e de cabelos desgrenhados, sem tempo para conversas, rodando em seu carrão à procura de um antigo inimigo. Nessa jornada, o ex-agente da lei promove a justiça que lhe convém no melhor estilo Rick Grimes (protagonista da série The Walking Dead), ou seja, na bala e na lâmina.
Do outro lado está o Passageiro (vivido por Tatiana Paganella e Adriano Basegio em momentos distintos), espécie de demônio que vaga pelo mundo, hospedando-se em corpos humanos sempre que necessário, rodeado de asseclas tão poderosos quanto ele. Sua única exigência parece ser a manutenção do guarda-roupa: chapéu e sobretudo de cowboy, máscara de gás e uma pistola bizarra.
O embate entre mocinho e bandido se desenrola há muito tempo, sempre com o policial levando a pior, mas sobrevivendo para lutar mais um dia (daí uma certa semelhança do protagonista gaúcho com o detetive britânico John Constantine, do quadrinista britânico Alan Moore). Até o momento em que ele cruza com um grupo de sobreviventes e a situação inesperadamente se inverte. Mas isso tudo não estava nos planos.
A ideia inicial de Pinheiro, lá no início dos anos 2000, era mesmo fazer um filme tradicional de zumbi. Mas a horda de mortos-vivos que começou a varrer o cinema na época esfriou os ânimos da equipe e o obrigou a mudar os rumos do projeto.
- Em vez de focarmos no surgimento da praga zumbi, como é habitual, partimos do pressuposto de que o apocalipse já faz parte do mundo. E daí contamos uma história que se passa dentro dessa realidade - explica o diretor.
De fato, o mortos-vivos que se arrastam ao redor dos protagonistas estão ali apenas para indicar o estado das coisas - ou para fazer voltar o almoço do espectador mais sensível numa determinada cena. A mudança de foco parece ter dado certo, a julgar pela recepção que Porto dos Mortos tem tido em blogs, sites e festivais especializados em cinema fantástico.
Mas Pinheiro prefere se manter cético, destacando que sua estreia em longas-metragens é apenas um filme que ele queria fazer, sem pretensões de agradar ou virar sucesso dentro de um determinado nicho.
- Porto dos Mortos é basicamente um compêndio dos meus 30 anos de vida - resume o diretor, hoje com 33 anos, que bancou os custos do longa-metragem em parceria com o produtor Isidoro Guggiana.
- Foi a realização de um sonho e um grande aprendizado: é possível fazer qualquer tipo de cinema em Porto Alegre - completa Guggiana.
O filme estreia nesta sexta-feira na Sala P.F. Gastal, na Usina do Gasômetro, com sessões às 15h e 17h e edições comentadas às 19h.
Mortos-vivos gaúchos
"Porto dos Mortos" estreia na Capital
Longa-metragem que introduz Porto Alegre na mitologia dos zumbis e espíritos tem sessões normais e comentadas neste final de semana na Sala P.F. Gastal
Gustavo Brigatti
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project