Os roqueiros gostam de se gabar de que Porto Alegre é a capital brasileira do rock, apontando com saudade os picos onde foram realizados shows antológicos e listando bandas que não existem mais. Já os regueiros, não. Os regueiros simplesmente entopem as apresentações de suas bandas prediletas agora e sem nostalgia, como o Natiruts.
A banda brasiliense, que viria para uma apresentação única nesta quinta-feira (25/10), viu as entradas se esgotarem e por isso chegou mais cedo para um show extra nesta quarta - ambos no Opinião.
Eo Natiruts não é exceção. Somente na casa de shows da Cidade Baixa, dezenas de bandas nacionais e internacionais de reggae se apresentaram nos últimos anos sempre com casa cheia. Algumas, como a Soldiers Of Jah Army (SOJA), tiveram um crescimento de público tão expressivo que precisaram se mudar para um espaço de maior capacidade, o Pepsi On Stage.
Para Diego Faccio, diretor de Mídia do Opinião, as explicações para a força do gênero em Porto Alegre convergem para a cultura do surfe e a politização:
- O reggae é uma música de protesto que tem, em suas composições, mensagens que fazem seus fãs refletirem sobre questões raciais, políticas, sociais e econômicas. Podemos considerar também que é um ritmo que agrada muito a surfistas e simpatizantes desse esporte. E Porto Alegre ser a capital nacional do surfe (maior número de praticantes por habitantes do país) ajuda muito a fortalecer a disseminação do ritmo através dessas pessoas e suas redes de relacionamento.
Vocalista da Chimarruts, Tati Portela situa o marco zero do reggae na Capital no final dos anos 1990, quando o festival Ruffles Reggae ajudou a massificar o gênero por meio de nomes como Inner Circle, Big Mountain e Ziggy Marley & the Melody Makers. O evento, que teve duas edições em Porto Alegre (1996 e 1997), teria sido o estopim para o surgimento de diversas bandas locais, incluindo a própria Chimarruts.
- Desde então, a cena só tem crescido, e notamos isso no público. Temos 12 anos de estrada e vemos gente que nos acompanha desde o início trazendo hoje seus filhos - disse Tati, por telefone, enquanto cruzava a fronteira voltando da primeira turnê internacional que a Chimarruts realizou, na Argentina, no último final de semana.
Um dos espaços mais identificados com o reggae em Porto Alegre, o bar Casa de Praia é, há 10 anos, o lugar certo para ouvir todas as vertentes do estilo. Rafael Leistner, proprietário da casa e surfista de final de semana, afirma que o bar não toca apenas reggae, mas virou referência até para quem vem de fora.
E dá sua explicação para o sucesso do ritmo na Capital:
- Quem gosta de reggae, gosta independentemente do estilo estar na mídia ou não. Reggae é mais que um gosto musical, acaba sendo uma filosofia de vida.
Então, toca uma regueira, aí!