A vida de Morgada Cunha foi praticamente toda dedicada à dança, numa combinação de paixão e obstinação marcada por muitas alegrias, mas também pela frustração diante da falta de maior apoio. Reconhecimento ao seu trabalho Morgada tem.
Neste domingo, às 21h, no Teatro CIEE, a bailarina, coreógrafa e professora de 78 anos recebe uma placa honorífica como homenageada do Porto Alegre Em Cena. Morgada apresenta na programação do festival sua mais recente criação: o balé contemporâneo Ciclos - Os Desterrados.
- São 70 anos de dança. Esta homenagem é maravilhosa, mexe com o ego, faz a gente ver que trilhou o caminho certo. Isso não tem preço, é uma recompensa para a vida inteira.
Morgada observa, porém, que o panorama da dança no Rio Grande do Sul pouco mudou no decorrer de décadas:
- Sempre foi uma dificuldade. Aqui só é prestigiado, com patrocínio e pelo público, o que vem de fora. Nossos bailarinos e coreógrafos progrediram muito, mas precisam sair do Estado para serem reconhecidos. Se não amar desesperadamente, não se vai em frente.
Os Desterrados é inspirado no Brasil colonial, no cotidiano dos escravos e nas influências legadas por esse período histórico.
- O espetáculo aborda também a questão do preconceito e da discriminação de forma mais ampla na sociedade atual. É uma coreografia densa, que termina num grande Carnaval - explica Morgada.
Professora aposentada da UFRGS, Morgada, que é mãe da cantora e compositora Adriana Calcanhotto, anuncia Os Desterrados como sua última coreografia.
- Tenho 78 anos, e minha cabeça funciona como se eu tivesse 30. Mas estou saindo. Cansei de trabalhar por buquê de flor.