Pode ser difícil, à primeira vista, entender o que leva uma pessoa a incluir os campos de concentração nazistas em uma viagem de turismo. Auschwitz I e Auschwitz-Birkenau não são, obviamente, locais de prazer ou onde se goste de estar, como seria de praxe em uma viagem de férias. Para entender melhor o que leva milhares de pessoas a se deslocarem até os campos talvez seja melhor relembrar outros exemplos espalhados pelo mundo: a casa de Anne Frank, em Amsterdã, o Museu do Terror, em Budapeste, o Memorial do Holocausto, em Berlim, a antiga Escola de Mecânica da Armada (Esma), em Buenos Aires, entre tantos outros museus e espaços dedicados a uma época de crueldade, preconceito e tristeza exacerbados. Servem hoje como memória.
A História - que não deve ser esquecida para não ser repetida, vale lembrar - é o que atrai os visitantes. Todos esses locais - apesar de serem testemunhos do horror e da tristeza _ recebem visitação constante. Dito isso, se você ainda quiser visitá-los, prepare-se para um caminho inequivocamente sem volta - não porque, como em outros tempos, de lá você não sairá. O caminho é sem volta porque depois de ter posto os pés nesses lugares, você carregará isso para sempre.
A sensação de estar em um local onde tantas pessoas foram assassinadas e torturadas é pesada e forte e, para muitos, insuportável. Auschwitz I e Auschwitz-Birkenau - considerados Patrimônios Históricos da Humanidade - foram durante a II Guerra Mundial campos de concentração e de extermínio, respectivamente, que ficam próximos a Cracóvia, localizada no sul da Polônia.
Para ir até lá, saindo dessa cidade, pode-se tomar ônibus ou trem, e leva-se cerca de uma hora. A recepção em Auschwitz I é feita por meio da sarcástica frase: "Arbeit macht frei". Em alemão, significa "o trabalho liberta". A sentença, forjada no portão de ferro da entrada, anuncia que chegamos - exatamente o mesmo anúncio que recebiam aqueles que haviam sido capturados pelas tropas de Adolf Hitler.
Lá dentro, os prisioneiros eram obrigados a trabalhar pesadamente, mesmo dormindo em condições de extremo desconforto, passando frio e fome e sem qualquer chance de que pudessem ser libertados pelo trabalho. Além da frase, pavilhões frios e assustadores, cercas elétricas e arames farpados também são indícios do que espera os visitantes.
Dali, os turistas dirigem-se para uma sala em que um vídeo mostra as atrocidades ocorridas no local - e em outros campos espalhados pelo mundo. As imagens são fortes: experimentos do médico nazista Josef Mengele, pessoas sendo mortas, corpos jogados em valões. A capacidade humana de fazer o mal aparece em toda a sua potencialidade.
Auschwitz I
Auschwitz I tem diversos pavilhões feitos de tijolo. Embora não seja um campo de extermínio, diversas pessoas, entre judeus e ciganos em sua maioria, morreram ali. Era o local em que Mengele fazia seus experimentos com humanos, principalmente gêmeos e mulheres. Havia também um bloco onde eram realizadas torturas. Entre dois deles, está o local - um muro de concreto - onde alguns prisioneiros eram fuzilados.
Atualmente, os grandes pavilhões se transformaram em salas de exposições. Em um deles, há quantidades imensas de cabelos, malas, bonecas, pentes, roupas, óculos e sapatos. Até próteses e bengalas encontram-se expostas. Tudo era retirado dos prisioneiros no campo. Em outro, fotos, cartas e documentos expõem um pouco da história dos que ali estiveram.
Auschwitz-Birkenau
No Auschwitz-Birkenau um trilho de trem passa sob o pórtico e atravessa o campo pelo meio. Os trens, superlotados e com passageiros que haviam viajado por dias, desembarcavam direto nas câmaras de gás. Achavam que iam passar por um ritual de higiene, mas estavam indo para uma viagem sem fim.
As construções neste campo são feitas de madeira, com muitas frestas nas paredes. No inverno, mesmo com vários abrigos, o visitante sente muito frio. Pode-se imaginar o que as pessoas sentiam, durante a II Guerra Mundial, com pouquíssimas roupas e cobertores, nestas construções.
Em um destes pavilhões a entrada é permitida. Nele, tem-se a ideia de como as pessoas dormiam. Os toscos triliches eram ocupados por mais de uma pessoa por cama. Todos dormiam muito mal agasalhados. As condições de higiene eram mais do que precárias. As necessidades fisiológicas eram feitas em buracos no chão, em latrinas coletivas, para muitas pessoas. Muita gente morria de frio, fome e doenças.
Ao fundo deste imenso campo aberto, próximo aos fornos que foram explodidos, foi construído um monumento em homenagem aos que lá morreram.
Perto dali, uma cidade agradável
Cracóvia, tão perto dos campos, é uma cidade agradável. Em 1978, seu Centro Histórico foi inscrito pela Unesco como Patrimônio Mundial.
Próximo ao centro, que é de uma beleza extraordinária, há uma praça pública, a Plac Zgody, em que está situada a Eagle Pharmacy, uma farmácia cujo dono era Tadeusz Pankiewicz. Não judeu, ele decidiu ficar dentro do gueto da Cracóvia, para que aqueles que eram proibidos de sair de dentro dessa zona limitada também pudessem comprar medicamentos. Além de vender, forneceu remédios de graça, sediou encontros entre os intelectuais e cedeu o seu espaço para a organização do Levante.
Também em Cracóvia, não muito longe da Eagle Pharmacy, está a Fábrica da Schindler, famosa porque seu dono propiciou a fuga para inúmeros judeus. Sua história foi imortalizada no filme A Lista de Schindler, de Steven Spielberg. A capacidade humana de fazer o bem aparece em toda a sua potencialidade.
Todos são locais que devem ser visitados. Neles está inscrita parte importante - e aterrorizante - da história recente da humanidade. Longe de ser prazerosa, a visita colabora para que a experiência perpetrada durante a II Guerra Mundial não seja nem esquecida nem repetida.