Quando vista durante a chegada pelo ar, a Ilha de Mafia não parece ser muito mais do que um pedaço de terra verde em formato de lua crescente ao largo da costa oriental da África. Pouco menor que a cidade de Nova York, a ilha verdejante, a 32 quilômetros da Tanzânia continental, é densamente coberta por coqueiros, com nada além de flora verde visível no interior e alguns trechos de areia branca intermitentes rasgando a costa.
A apenas meia hora de Dar es Salaam, a maior cidade do país, nosso avião sacolejante de 12 lugares se aproximou da pista de terra e cascalho. Enquanto aterrissávamos, alguns relances de civilização passavam pelos nossos olhos: um barco solitário patrulhava a linha costeira, um trio de crianças alegres apontava para o avião da beira do mangue, duas mulheres enroladas em cangas coloridas, o tradicional vestido africano, e com véus, caminhavam equilibrando grandes potes de cerâmica na cabeça.
Contando com apenas alguns milhares de visitantes por ano, a Ilha de Mafia não é um destino turístico requisitado e conta com poucos dos acessórios sofisticados que atraem hordas de casais em lua de mel a outras ilhas do Oceano Índico, como Seicheles, Maurício e Zanzibar. Ao longo da última década, no entanto, ela conquistou um grupo pequeno e apaixonado de seguidores entre os viajantes atraídos por seus encantos simples e atmosfera serena.
Serena, isto é, em terra. Debaixo da água, uma reserva marinha protegida oferece alguns dos pontos de mergulho mais magníficos da região, quiçá do mundo. Tartarugas marinhas, arraias e tubarões-de-pontas-brancas-de-recife circulam por essas águas quase o ano inteiro. Embora poucos viajantes modernos conheçam seu nome, Mafia atrai visitantes internacionais desde pelo menos o século 11, quando serviu como importante base comercial para os marinheiros shirazis que controlavam a região.
Mais tarde, a ilha virou um centro para o comércio de escravos do Oriente Médio, depois uma base militar para colonos alemães e, por fim, britânicos. (Embora exista um número elevado de imigrantes italianos comandando pensões em Mafia hoje em dia, o nome da ilha não tem nada a ver com o crime organizado; provavelmente ele vem de uma antiga palavra árabe para arquipélago.)
No último século, Mafia e seus 40 mil habitantes foram praticamente ignorados pelo mundo exterior, alcançados apenas pelas balsas lentas da Tanzânia. Isso começou a mudar em 1995, quando o World Wildlife Fund (WWF) e outros ativistas ambientais conseguiram convencer o governo tanzaniano a proteger a metade sul da ilha e as águas que a cercam com a criação do Parque Marinho da Ilha de Mafia.
A reserva de 1.320 quilômetros quadrados abriga 400 espécies de peixe e 48 tipos de corais, além de gigantes tartarugas marinhas verdes e o dugongo, espécime quase extinto da família do peixe-boi. Com a pesca e outras indústrias enfrentando sérias restrições dentro da reserva, os ricos recifes de Mafia logo começaram a atrair a atenção de mergulhadores.
Depois que pescadores do lado ocidental da ilha descobriram que o amigável tubarão-baleia gostava das águas ricas em plâncton de lá, barcos levando grupos de visitantes para nadar com as criaturas com manchas brilhantes deram um motivo para os turistas apreciadores de água ficarem mais tempo.
Voos aéreos regulares de Dar es Salaam, principal ponto de entrada da Tanzânia, foram criados em 2006. O número de pensões e pousadas na ilha cresceu de apenas algumas, poucos anos trás, para quase duas dúzias agora. Em 2010, o número de visitantes internacionais foi 300% maior que quatro anos antes, segundo estatísticas do governo local - embora o modesto total ainda tenha sido de 4,1 mil pessoas.
Longe do agito de Zanzibar
Durante uma visita recente com minha namorada, nossa primeira parada foi em Zanzibar, uma típica atração turística. Embora eu não tenha reclamações das praias de areia branca, redes grandes e coquetéis tropicais, não curti o litoral cheio de construções e os vendedores ambulantes onipresentes. Desejava férias mais longas na praia antes de voltar para casa e, sempre que abria meu guia turístico, meus olhos se voltavam para a pequena ilha ao sul de Zanzibar, da qual pouco conhecia.
Três semanas mais tarde, após voltarmos para Dar es Salaam, partimos para Mafia, onde passamos o fim de semana do Natal no Mafia Island Lodge, dentro do parque marinho. A faixa de areia semicircular era o antídoto perfeito para a movimentada Zanzibar. Apenas um punhado de turistas descansava nas balançantes espreguiçadeiras de madeira, e quando quatro de nós zarparam num pequeno barco para mergulhar de snorkel entre cardumes de peixes-zebra e corais de vermelho vivo, ficamos com um trecho maravilhoso de recife tropical somente para nós.
Os corais são parcialmente preservados por uma taxa de US$ 20 por pessoa por pernoite, pagos pelos turistas na entrada do parque (dólares americanos são aceitos na ilha inteira). Diversas hospedarias baratas foram criadas no limite do parque para quem deseja evitar a taxa _ além de um número enorme de opções ecológicas autênticas. Depois de dois dias usando snorkel e nadando dentro do parque marinho, rumei por conta própria para o Ras Mbisi Lodge.
Dando sinal para um dos táxis 4x4 que transitam pelas estradas de terra da ilha, cheguei ao complexo com telhado de palha após uma corrida sacolejante de 40 minutos. Ali, luxuosas cabanas de praia são construídas com a madeira sustentável dos coqueiros locais, iluminadas por eletricidade gerada com biogás e a água é aquecida por energia solar.
O resort se mistura harmonicamente com o coqueiral, com nenhum objeto artificial visível nos oito quilômetros de praia na frente da propriedade. Durante uma caminhada noturna, dividi o local com poucos: um pescador amarrando a piroga, duas mulheres procurando mariscos na maré baixa e dezenas de siris que saíam de seus buracos na direção do mar. Embora o resort prepare excursões, inclusive viagens para nadar com os tubarões-baleia, preferi matar meu tempo lendo sozinho na praia com nada à vista, além de coqueiros e uma extensão sem-fim de água marinha.