Não faz parte da lida dos repórteres fotográficos ver o invisível. Mirian Fichtner se impôs esse desafio, na feitura do livro Cavalo de Santo - Religiões Afro-gaúchas. São 153 fotos distribuídas em 167 páginas que contam a história do cotidiano das casas de religião espalhadas pelos rincões do território gaúcho.
Há uma fila de argumentos que explicam o fato de as casas de religiões serem "invisíveis" na história gaúcha. No livro, o antropólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Ari Pedro Oro analisa: "A importante presença afro-religiosa no segundo Estado mais claro do país, em princípio não se coadunaria com a imagem que se faz do Rio Grande do Sul enquanto um Estado "branco", "católico" e "moderno", que enaltece as figuras heróicas do gaúcho e dos imigrantes europeus e seus descendentes e que, por isso mesmo, tende a invisibilizar os negros e os índios, apesar da inestimável contribuição que esses grupos étnicos prestaram, ao longo da história, para o desenvolvimento desse Estado".
A realidade, descrita com rigor cientifico pelo professor Oro, uma das maiores autoridades brasileiras no assunto, é mostrada pelo conjunto das fotos de Cavalo de Santo. Ao folhear o livro, o leitor é conduzido para dentro de uma casa de religião. Pelo movimento dos corpos das pessoas é possível imaginar o som das vozes entoando os cantos que flutuam misturados às batidas dos tambores.
Para conseguir a perfeita sintonia entre a foto e a realidade, Mirian precisou apoiar-se em um trabalho de pesquisa gigantesco, no que foi auxiliada pelo seu companheiro Carlos Caramez e uma equipe de trabalho. O relatos feitos pela equipe de pesquisa deram o rumo do trabalho. Mas o olhar sobre a cena a ser fotografada é dela. A sua marca pessoal está bem nítida nas fotos. A história contada por Cavalo de Santo lança luzes sobre um elo esquecido da construção do nosso modo de vida.