Bruna Surfistinha tinha potencial para ser um sucesso de bilheteria. É a versão de um best seller, tem como protagonista uma atriz popular e aborda um tema que sempre atrai multidões. E foi.
No primeiro fim de semana, 400 mil pessoas assistiram à história de Raquel Pacheco, garota tímida de clásse média que se transformou na mais famosa prostituta do Brasil. Trata-se da segunda melhor estreia no país em 2011, atrás apenas do desenho Enrolados, e o sétimo maior desempenho nacional nos últimos 20 anos. Nada mal para um filme sem apoio ou parceria da Globo Filmes, marca por traz de nove entre 10 sucessos brasileiros.
Bruna Surfistinha tinha potencial para ser só isso, sem seduzir também a crítica. Traz a assinatura de um jovem estreante e desconhecido (nem tem página na Wikipédia), é estrelado por uma atriz com mais carisma do que talento e aborda um tema no qual não raro se descamba para o popularesco ou o escândalo puro. Não é.
O filme de Marcus Baldini tem suas virtudes, a começar por não glamourizar a prostituição. Ok, Bruna vê o céu, mas o inferno - da droga, da solidão etc. - está sempre à espreita. O sexo quase nunca é algo erótico; as cenas provocam incômodo - e não necessariamente buscam o choque pelo choque. Deborah Secco, por sua vez, se não convence como a Raquel adolescente - a gente sabe que está vendo Deborah Secco tentando passar por adolescente -, some, no bom sentido, quando encarna Bruna.
Há problemas? Claro. A diferença entre o (ótimo) cinema argentino e o (irregular) cinema brasileiro está no roteiro. Ainda que verídicos e verossímeis, os altos e baixos de Raquel/Bruna se mostram previsíveis na tela. Também faltam elipses e sobram repetições. Mas, no fim das contas, vale o programa.