O pianista Sergio Mendes, consagrado como um dos maiores nomes internacionais da música brasileira, morreu nesta sexta-feira (6), aos 83 anos, em Los Angeles, nos Estados Unidos.
A notícia foi confirmada por familiares ao jornal O Globo, e a causa da morte não foi revelada. Desde o ano passado, Mendes enfrentava doenças decorrentes de problemas respiratórios.
Carioca de Niterói nascido em 1941, o músico começou a estudar piano ainda criança, quando tinha a intenção de virar um músico clássico, mas logo foi conquistado pelo jazz. Iniciou a carreira ao lado de nomes como Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Baden Powell nas décadas de 1950 e 1960.
Seu LP de estreia, Dance Moderno, foi gravado em 1961 e trouxe releituras de Oba-lá-lá (João Gilberto) e Tristeza de Nós Dois (Durval Ferreira e Maurício Einhorn), entre outras. No ano seguinte, fundou o Sexteto Bossa Rio, grupo com o qual se apresentou no famoso Festival de Bossa Nova, realizado no Carnegie Hall de Nova York.
À época, ele passou a gravar também em inglês, com destaque para Quiet Nights (1963) e The Swinger from Rio (1964). Você Ainda Não Ouviu Nada! (1964), com arranjos de Tom Jobim, foi consagrado como um clássico da bossa nova instrumental e do samba-jazz. Suas interpretações para canções como Garota de Ipanema (de Tom e Vinicius) e Nanã (Coisa Nº 5) (de Moacir Santos e Mário Telles), são consideradas definitivas na história da música brasileira.
Nos EUA, manteve a média de um disco gravado por ano, nos anos 1970 e 1980, alguns com pegada mais pop.
Sucesso internacional
Mendes foi o principal expoente do samba-jazz e da bossa nova ao redor do mundo. Sua versão de Mas Que Nada, originalmente composta por Jorge Ben Jor, foi hit nos Estados Unidos e chegou a fazer parte da trilha sonora de filmes como Austin Powers - 000 Um Agente Nada Discreto (1997). Quarenta anos depois do sucesso, em 2006, a faixa foi regravada pela banda norte-americana Black Eyed Peas.
O músico foi o brasileiro com mais gravações emplacadas no Top 100 das paradas dos EUA. Ao todo, foram 14 músicas, como Mas Que Nada, que chegou ao 47º lugar em 1966, e Olympia, que alcançou a 58ª posição em 1984. Em 1967, conquistou o quarto lugar nas rádios do país com a versão bossa nova de The Look of Love, de Burt Bacharach e Hal David, e 15 anos depois, Never Gonna Let You Go atingiu a mesma posição e ganhou repercussão até no Japão.
Mendes gravou mais de 40 álbuns ao longo da carreira. Foi premiado com um Grammy, na categoria atualmente rebatizada de "global music", pelo disco Brasileiro, de 1992, além de dois Grammy Latino. Mais recentemente, em 2012, foi indicado ao Oscar junto a Carlinhos Brown pela canção Real In Rio, do filme Rio (2011).
— Não é que eu tenha buscado o sucesso nos Estados Unidos, no Brasil, no Japão ou nas Filipinas. A música é assim — disse ele em uma entrevista para o jornal O Globo em 2021, ressaltando que se empenhava em "produzir música para o mundo".
Parcerias consagradas
Muito antes de atingir o topo das paradas com o Black Eyed Peas, Mendes fez duas turnês ao lado de Frank Sinatra e tocou com artistas como John Legend.
Algumas das histórias dessas parcerias musicais são contadas no documentário Sérgio Mendes no Tom da Alegria (2020), de John Scheinfeld. A obra conta com relatos de nomes como o músico Herb Alpert e o produtor Quincy Jones.
Vida nos EUA
O artista vivia há seis décadas com a esposa, a cantora Gracinha Leporace, em Los Angeles. Além de casal, os dois eram parceiros musicais — ela cantava na banda de Mendes há mais de 50 anos.
Eles decidiram morar no país norte-americano por conta da instabilidade no Brasil após o golpe militar de 1964.
Repercussão da morte
A morte de Sergio Mendes repercutiu entre outros grandes nomes da música e do entretenimento.
Milton Nascimento relembrou que Mendes esteve em um show seu em 2022 e o chamou de "querido gênio". "Foram muitos anos de amizade, parceria e música, e ele estará para sempre comigo, em meu coração", acrescentou o cantor.
A imprensa internacional destacou o artista brasileiro como uma lenda e citou parcerias dele ao longo da carreira.