Por que artistas estão regravando as próprias músicas? Seja por questões estéticas ou pelo controle da obra, às vezes uma homenagem afetiva, as regravações de faixas e até de discos inteiros se repetem pelo mundo. Não que seja novidade, as músicas sempre foram retrabalhadas em formatos como ao vivo ou acústico, mas as revisitações ganharam grande destaque nos últimos anos.
Roger Waters, por exemplo, lançou ano passado The Dark Side of The Moon Redux, uma releitura do disco histórico de 1973 do Pink Floyd. Também em 2023, o U2 divulgou Songs of Surrender, trazendo 40 regravações de sucessos da banda. Fito Páez regravou todas as 14 faixas de El Amor Después del Amor (1992) contando com participações especiais, resultando no álbum comemorativo EADDA9223 (2023). Já os Titãs lançaram neste ano o disco Microfonado, também de releituras e participações.
O exemplo mais notório é o de Taylor Swift, que, desde 2021, já disponibilizou releituras de quatro discos: Fearless, Red, Speak Now e 1989. Devido à venda das masters de seus seis primeiros álbuns para Scooter Braun, empresário que antagonizava com a cantora, ela lançou as chamadas Taylor’s Versions, uma forma de assumir o controle dos fonogramas (propriedade das gravações das faixas). Essa história é contada na série documental Taylor Swift vs Scooter Braun: Bad Blood, que chegou à plataforma de streaming Max em junho.
Ter o controle dos fonogramas também motivou a Acústicos e Valvulados a lançar Diamantes Verdadeiros – O Top 10 da Era do Rádio, com hits da banda, em 2014. Posteriormente, Diamantes Verdadeiros Vol. II – With a Little Help From Our Friends saiu em 2021, contando com a participação de cantores da cena gaúcha. O vocalista, Rafael Malenotti, conta que o projeto surgiu com a necessidade de disponibilizar faixas nos serviços de streaming:
— A gravadora, que tinha os fonogramas da época da gravação original, não manifestou interesse. Então, nossa ideia foi inspirada no Chuck Berry, que passou por muitas gravadoras e em cada uma lançava Johnny B. Goode. Pegamos nossas 10 Johnny B. Goode e formulamos o disco.
O músico Elton Saldanha pontua ter lançado álbuns de regravações por questões estéticas. Ele ressalta que, por ter muitos anos de carreira, algumas canções podem ser atualizadas.
— As primeiras gravações que fiz foram para festivais. No momento (da primeira gavação), tu fazia isso com pressa. E digamos que fosse em um festival em Cruz Alta: lá tem um estilo bem definido que dá certo — relata.
Por motivações estéticas e, ao mesmo tempo, para ter autonomia dos fonogramas, o vocalista e guitarrista Jonathan Dörr regravou sucessos da Reação em Cadeia — em especial, dos discos Neural (2002) e Resto (2004). As releituras devem integrar uma compilação que sairá nas próximas semanas. O primeiro single da empreitada, Me Odeie, foi lançado em 21 de junho.
Conforme Jonathan, ele nunca se sentiu satisfeito com as faixas originais, especialmente pelo contexto das gravações realizadas durante as madrugadas.
— O cansaço influenciou na performance de todo mundo, além da falta de uma produção que tirasse o nosso melhor. Foi muito a toque de caixa. Sempre sonhei que um dia teria a oportunidade de entrar num estúdio e regravar tudo — diz Jonathan.
O músico assegura que o material de 2024 traz um som mais "vivo", "brilhante" e "com mais pressão". Ele sente que cumpriu a missão, criando um híbrido das canções daquela época com um tempero atual.
— Tive que voltar no passado e encontrar o Jonathan de 19 ou 20 anos. Entender minha cabeça de novo, olhando de uma forma cuidadosa — afirma. — É um trabalho até arqueológico, porque tu começas a buscar como foram feitos os arranjos para poder trazer aquilo de volta, talvez dar aquela correção. As músicas vão sendo corrigidas ao longo do tempo. Elas vão ganhando essa correção na estrada e nos shows.