Da última leva do rock gaúcho a ganhar fama nacional e a sentar no sofá de Jô Soares, a Bidê ou Balde tem uma série de contrastes que constroem a história de uma superbanda. Criou refrões grudentos, bem no estilo rádio anos 2000, mas com letras flertando com a esquisitice e o nonsense, "como mambo sobre cegos na Polônia". Tem Mesmo que Mude, uma das canções sobre o fim do amor mais lindas da época, e tem E por que Não?, das mais polêmicas da história da música brasileira. O texto mal começou e já deu saudade dos tempos das bandas de rock.
Um monte de saudosistas que cresceram assistindo aos clipes da MTV e ouvidos ligados na FM com uma fita K7 de prontidão para o momento em que Carlinhos Carneiro surgisse rasgando a voz ao cantar Melissa vão aceitar seu convite para relembrar a Bidê ou Balde neste sábado (2), no Opinião, a partir das 23h (veja detalhes ao final do texto). O vocalista e fundador dará breve fim à pausa anunciada em 2017 para comemorar os 25 anos do dia em que a banda surgiu em Porto Alegre. Esses seis anos foram suficientes para a maioria dos fãs terem largado a vida boêmia e tido filhos, mas a entrada de crianças não é permitida.
— Nosso público envelheceu, são pais e mães de família, mas sempre mandam fotos das crianças ouvindo nossas músicas. Vou ter um problema sério nesse show de sábado, porque é só para maiores de 16 anos! — brinca Carneiro, pai pela segunda vez aos 45 (veja cinco músicas essenciais dos 25 anos da banda segundo ele).
Só não será possível reunir a última formação tradicional da Bidê ou Balde porque a tecladista Vivi Peçaibes e o guitarrista Leandro Sá estão vivendo em Portugal, ambos com agendas cheias. Para não deixar o aniversário passar batido, Carneiro vai reunir ex-integrantes e amigos da banda, como Rodrigo Pilla, guitarrista e vocais de apoio que esteve até o último show oficial, em 2016, além da tecladista Kátia Aguiar, o baixista Lucas Juswiak e o baterista Pedro Hahn, entre outros.
O repertório vai se concentrar principalmente nos dois primeiros discos, Se Sexo É o que Importa, Só o Rock É Sobre Amor! (2000) e Outubro ou Nada (2002). E Por Que Não? segue de fora do repertório desde 2005, quando Carneiro fez um acordo na Justiça para não tocar mais a música que, na época, tornara-se alvo de críticas de movimentos sociais que diziam que a letra fazia apologia à pedofilia e ao incesto. Tamanha foi a ira destilada contra a Bidê ou Balde que o cantor sequer gosta que os fãs peçam pela canção, uma das mais ouvidas da banda no Spotify.
— A intenção era brincar com a linguagem, com as várias possibilidades de interpretação, e eu pensava que a maldade estava na cabeça de quem ouvia. Só que, durante a polêmica, alguém me falou que as pessoas que sofreram abuso teriam gatilho ouvindo a música. Então, a ficha caiu, e eu nunca mais quis tocar essa música — diz.
Com baques e vitórias, a sensação é de que a Bidê ou Balde deixou um legado importante para o rock nacional e para a música no Rio Grande do Sul. Carneiro deixa no horizonte um futuro reencontro com os integrantes que não estarão no show de aniversário.
— Como ainda não teve um reencontro com todo mundo, esse golpe a gente vai ter que dar uma hora dessas. Eu, o Pilla, a Vivi e o Sá conversamos bastante sobre isso. A gente tem um monte de músicas inéditas que gostaríamos de lançar. O grupo da Bidê no WhatsApp continua vivo.
Carlinhos Carneiros Apresenta 25 Anos da Bidê ou Balde
- Neste sábado (2), a partir das 23h.
- Bar Opinião (Rua José do Patrocínio, 834), em Porto Alegre.
- Ingressos a partir de R$ 100, à venda no Sympla.