Desde pequeno, Cícero Guedes está acostumado a prestar homenagens às pessoas. Natural de São Sepé, na região central do Rio Grande do Sul, o cantor e compositor recorda que sua primeira apresentação em público foi aos 8 anos, em uma festa familiar, cantando uma paródia de Querência Amada que sua mãe escreveu. Era uma música que contava a história de sua família.
Hoje, aos 33 anos, Cícero é o responsável pelo projeto Sua Vida Cantada (no Instagram, @suavidacantada), em que compõe canções exclusivas para homenagear a vida de alguém. Com a iniciativa, que teve início em maio deste ano, ele conta histórias e celebra trajetórias. Como aquela vez em que cantou a paródia de Querência Amada.
Depois daquela festa familiar, Cícero nunca mais largou a música. Quando tinha 12 anos, participou do Gente Inocente, da TV Globo, e foi escolhido como o melhor cantor do semestre do programa. Mudou-se para Santa Maria e, aos 19, formou a dupla sertaneja com Sandro — além dos shows e lançamentos musicais, os dois integram o Que Papo É Esse?, da RBS TV.
O cantor lembra que o Sua Vida Cantada surgiu num pós-pandemia meio vagaroso, ainda incerto. Sandro e Cícero se projetaram nacionalmente com o hit Me Adota, parceria com MC Mirella, na pandemia. Conforme o músico, houve um crescimento significativo da dupla, chegaram a se mudar para Goiânia (GO), mas então passaram por um processo em que as datas diminuíram e o cachê aumentou. Estavam acostumados a realizar entre 15 e 20 shows por mês, números que caíram para três ou quatro.
Cícero recorda que, ao voltar para Santa Maria, uma melancolia o abateu. Até que um dia sua esposa, Gabriela Protti, perguntou se ele não poderia compor uma canção em homenagem à avó dela, que estava completando 80 anos. Os netos queriam dar esse presente. O resultado foi significativo, como avalia Cícero.
— No salão, tinha umas 150 pessoas, e estava todo mundo chorando (de emoção) — descreve. — Cara, bateu uma empolgação em mim que fazia tempo que não sentia. Uma coisa que só a música consegue atingir. Por que não transformar isso num negócio?
Ali Cícero percebeu ter encontrado um bom filão. Apesar do Fantástico ter exibido o quadro O Som da Minha Vida, em que histórias ganhavam canções, ele sentia que poderia fazer algo mais tocante e singular. Também era sua oportunidade de se resgatar artisticamente.
— Essa coisa de emocionar alguém me fez brilhar de novo — diz. — É a minha música, mas é a história das pessoas. Sou só um instrumento. Tudo que as pessoas me falam vou anotando. Chego a incluir frases inteiras do que me contaram para ser único.
Como funciona
Normalmente, Cícero pede em torno de 20 dias para fazer a música. O preço pode variar, conforme o tempo e a demanda, mas está na casa dos quatro dígitos. Primeiro, há uma conversa com o cliente. O compositor faz uma entrevista — presencial ou por videochamada —, buscando extrair sutilezas de quem será homenageado.
Então, o músico elabora a composição e grava um registro simples, só voz e violão, com auxílio do guitarrista Ederson Mello, que cria a harmonia. A demo é apresentada ao cliente. Caso seja aprovada, entra a parte da gravação profissional. Nessa fase, o produtor musical Sillas Davis trabalha com as instrumentações, enquanto Cícero grava os vocais. Por fim, ele próprio atua na mixagem e remasterização.
No quesito sonoridade, as músicas costumam ser baladas, mas Cícero tenta transmitir a emoção que vai ser colocada na letra: se vai ser mais alegre, emotiva, heroica ou até humorada. Nessas, já saiu forró, MPB puxando para um Djavan, entre outras.
Caso a gravação seja aprovada, um clipe com fotos e vídeos da pessoa homenageada — cabe ao cliente fazer esse dever de casa — é montado para servir de apoio à apresentação, que, geralmente, ocorre em um evento familiar. Com o projeto, Cícero já criou canções para aniversário, batismo, casais e familiares. Até um chá de revelação com música está previsto. Para ele, são diversas possibilidades.
Um desses clientes é o santa-mariense Andrigo Zanella, 35 anos, que queria algo diferenciado para os sobrinhos, Érico e Ana Liz. O primeiro foi contemplado com a canção Bate Pandeiro (o pequeno ama o instrumento), em seu aniversário de um ano. Já Ana Liz recebeu a música, que carrega seu nome no título, em seu batismo.
— Foi surpreendente. (A apresentação das músicas) trouxe vários momentos de choro para todo mundo — relata Zanella. — Cícero conseguiu traduzir através de palavras tudo aquilo que a gente sente e quer mostrar para essas duas crianças, para que lá no futuro eles possam ver o quanto são amados e respeitados. O quanto nos orgulhamos de ter eles na nossa vida.
Já o morador de Rio Grande Flávio Moro recebeu a homenagem das filhas — Bárbara e Flávia — em seu aniversário de 54 anos. Com a música Cenas da Vida, ele conta que se sentiu voltando ao passado e relembrando momentos desde a infância.
— Me senti grato por ouvir a minha história — realça Moro. — Fiquei surpreso. Nunca imaginei uma música criada exclusivamente contando a minha vida e me homenageando. Com o desenrolar da homenagem, a emoção foi evoluindo para um sentimento de muita alegria.