Era começo dos anos 1980, e Os Paralamas do Sucesso seriam atração no Festival da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Só que no dia da apresentação, o baterista Vital Dias não apareceu. Desesperados, Herbert Vianna (guitarra e vocal) e Bi Ribeiro (baixo) recrutaram João Barone para um frila naquela noite. O trio deu tanta liga no palco que assim se consolidou a formação clássica da banda.
Quatro décadas depois, Os Paralamas seguem tocando pelas capitais. Neste sábado (2), é a vez da capital gaúcha. O grupo volta a se apresentar no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), a partir das 21h (veja detalhes sobre ingressos ao final do texto).
A banda traz novamente o show da turnê Paralamas Clássicos, em que repassa hits da carreira de mais de 40 anos. Então, é noite para o público entoar Meu Erro, Ela Disse Adeus, Alagados, Óculos, Aonde Quer que Eu Vá, Uma Brasileira, entre outras canções que atravessam décadas. Parte desse repertório pode ser conferida na compilação Os Paralamas do Sucesso: 40 Anos — As Melhores, lançada em julho nas plataformas digitais, que reúne 20 petardos do grupo.
A turnê de clássicos surgiu da vontade da banda de realizar um novo show que não fosse amparado por um álbum específico, mas sim por tudo aquilo que os fãs querem ouvir em uma apresentação dos Paralamas. No entanto, quando o trio estava prestes a estrear a turnê, a pandemia adiou os planos. A retomada do projeto só teve início em novembro de 2021. Desde então, os Paralamas têm percorrido o país — no ano passado, se apresentaram no Araújo Vianna.
— Os últimos dois anos foram incríveis — atesta João Barone. — Nossas apresentações pelo Brasil costumam lotar, estamos com uma agenda superquente. E é um show que se soma com esse sentimento geral de voltar às boas.
Desta vez, a banda está celebrando quatro décadas oficiais de atividades, tendo como marco o lançamento do disco de estreia, Cinema Mudo (1983). Pode-se considerar como parte das comemorações o vinil Ronca Ronca Apresenta Os Paralamas do Sucesso ao Vivo, que saiu ainda em dezembro do ano passado. Trazendo uma apresentação ao vivo do grupo em 1999, o registro também celebra os 40 anos do programa de rádio Ronca Ronca, apresentado por Maurício Valladares, que se notabilizou por fotografar o trio ao longo das décadas.
Trajetória de sucessos
Dentro das celebrações, o grupo também remixou o primeiro álbum e irá disponibilizar a nova versão até o fim do ano. Barone sublinha que era um desejo dos três aperfeiçoar o material de Cinema Mudo com as condições técnicas de hoje em dia. Para o baterista, houve uma melhora no som das vozes e instrumentos, mas sem tirar a originalidade da gravação.
— Remixagem tem esse papel: resgatarmos um pouco uma experiência que para a gente não foi tão boa na época — afirma o instrumentista. — Nossa experiência não foi tão agradável com o primeiro disco, fomos muito flexíveis com as sugestões que os produtores e diretores da gravadora nos davam para fazer.
Por outro lado, Barone reconhece que havia ali um ímpeto promissor na sonoridade do grupo. Ele se diverte comparando a banda com um porco-espinho, que "se não segurar direito, vai espetar". Já com O Passo do Lui (1984), de sucessos como Óculos e Meu Erro, Os Paralamas realmente estrearam. O baterista lembra que nesse álbum os três se esmeraram no acabamento, impondo a liberdade estética e musical com as referências que eles tinham.
— Queríamos gravar um disco com um supersom. Se não desse certo, a gente voltava para a faculdade ou ia criar galinhas (risos) — brinca.
A afirmação estética da banda veio com Selvagem? (1986), em que o trio promoveu uma mistura de reggae, ska e dub com sonoridades brasileiras. Aliás, foi lançado Os Paralamas do Sucesso: Selvagem?, que integra a série O Livro do Disco, da editora Cobogó. Escrita por Mario Luis Grangeia, a obra analisa o terceiro álbum do grupo.
— Ao mesmo tempo que era um trabalho de sofisticação, tinha um apelo popular gigantesco — conta Barone. — Caso de Alagados, que tocou em tudo que é canto do país. Vimos como nossa música teve um efeito amplo em todas as camadas da população. Foi muito maior do que imaginávamos. Depois de Selvagem?, tivemos uma estrada asfaltada para fazer o que quiséssemos.
Com esse disco, Os Paralamas se consolidaram como uma das bandas mais criativas do rock brasileiro, explorando diferentes ritmos sem perder a veia pop e experimentando sucesso para além das fronteiras brasileiras — em especial, na Argentina. Falando nisso, o grupo pretende voltar a se reunir para trabalhar com composições novas. Porém, segue com uma "agenda quente", como define Barone, até dezembro. Esses encontros, portanto, devem ficar para o começo de 2024. Enquanto isso, o trio continuará tocando clássicos pelo país, celebrando as quatro décadas com a mesma formação.
— São muitas alegrias e tragédias, muitos sorrisos e choros — reflete Barone. — O importante disso tudo é que ainda sentimos prazer com nossa música. Sempre tivemos esse compromisso de não realizar nada burocraticamente. Muita gente já se aposentou e estamos aí, no maior gás, com a mesma fome de bola (risos).
Paralamas Clássicos
- Neste sábado (2), às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre. Abertura da casa: 19h30min
- Ingressos a R$ 240 (inteiro) ou R$ 125 (solidário, mediante doação de 1kg de alimento não perecível). Restam apenas entradas para pista lateral em pé. Ponto de venda com taxa: site da Sympla. Ponto de venda sem taxa: Planeta Surf Bourbon Wallig (Av. Assis Brasil, 2.611), das 10h às 22h, somente em dinheiro; e na bilheteria do Araújo Vianna (somente no dia do evento, duas horas antes do início)
- Desconto de 50% para sócio do Clube do Assinante e acompanhante