Consagrado como um dos principais nomes do oboé de sua geração, o gaúcho Alex Klein percorreu o mundo com a sua música, desenvolvendo uma trajetória marcada por premiações e passagens pela renomada Orquestra Sinfônica de Chicago. O músico estará no Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/n°) nesta quarta-feira (30), às 20h, para participar da série de concertos da Bach Society Brasil.
Ao lado de Fernando Cordella, cravista e diretor artístico do espetáculo, Klein tocará obras que datam do período barroco, estilo artístico que ele define como fundamental para a formação da cultura brasileira. O programa irá reunir composições de Arcangelo Corelli (1653-1713), Georg Friedrich Händel (1685-1759), Johann Sebastian Bach (1685-1750) e Domenico Zipoli (1688-1726). Mas é o último da lista que o oboísta enfatiza.
— É um nome que deveria ser tão conhecido aqui no Rio Grande do Sul quanto Johann Sebastian Bach. Porque Zipoli era compositor nas Missões Jesuíticas do Interior. Então, vamos ouvir a música que era tocada em São Miguel, em Santo Ângelo, em todas as Missões da região — pontua.
Nesse sentido, ele explica que uma das virtudes da apresentação de hoje é reverenciar as obras desses importantes nomes e evidenciar a música barroca que o Estado produziu naquela época.
De Porto Alegre para o mundo
Com pais que tiveram seu primeiro encontro romântico em um concerto da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), Alex Klein teve contato com a música desde cedo. Nascido na capital gaúcha, mudou-se para Curitiba aos 5 anos, e foi lá que deu início às suas práticas musicais.
Ele conta que foi uma atividade extracurricular que traçou os rumos de sua trajetória. No início da vida escolar, encontrou dificuldades para se adaptar às rotinas da instituição, e acabou iniciando os estudos em música em busca de algo que pudesse ajudar a melhorar sua concentração. Ao acompanhar um concerto, quando tinha cerca de 9 anos, encantou-se com o oboé e foi se especializando no instrumento.
— Um instrumentando pequeno, com uma abertura mínima, que cria um som capaz de encher um teatro. Isso chamou minha atenção e me deixou curioso. Foi a ciência da produção sonora que me atraiu — relembra.
Então, estudou em uma escola de música da cidade e de lá foi buscando novas instituições e instrutores que ajudassem a aprimorar suas habilidades. Décadas depois, esses estudos o levaram para uma das mais prestigiadas orquestras do mundo.
Em 1995, Klein se inscreveu para as audições da renomada Orquestra Sinfônica de Chicago. A escolha da instituição foi por entender que seria um local que colaboraria para sua trajetória. Entre os 130 músicos que participaram das audições, ele foi um dos quatro selecionados pelo diretor artístico para ir direto às provas finais da seleção, sendo, por fim, escolhido para atuar como oboísta principal do grupo.
Durante sua primeira passagem pela orquestra, o músico viveu momentos importantes de sua carreira. Um deles foi em 2002, quando ganhou o Grammy de principal solista de oboé pela gravação do Concerto para Oboé de Richard Strauss, que contou com a regência do prestigiado maestro Daniel Barenboim.
Um recomeço
Após quase uma década de atuação na Sinfônica de Chicago, Alex Klein foi diagnosticado, em 2004, com distonia focal, uma condição neurológica que faz com que os músculos de determinada região se contraiam involuntariamente. No seu caso, teve os movimentos de dois dedos da mão esquerda prejudicados. Percebendo a queda em seu desempenha, decidiu abdicar de sua função na orquestra e voltou ao Brasil.
— A gente busca tratamento para tentar entender melhor o que é, e nisso consegue encontrar um caminho. Então, eu comecei a reaprender o oboé dentro dessa nova realidade.
Nesse período, passou a atuar em outras frentes. Foi o responsável pela criação do Festival de Música de Santa Catarina e, na Paraíba, desenvolveu o Programa de Inclusão Através da Música e das Artes (Prima), além de realizar viagens pelo mundo como regente de diferentes orquestras.
Em 2016, voltou a atuar mais ativamente como oboísta, quando passou por um novo processo seletivo e reassumiu seu posto na Orquestra Sinfônica de Chicago. Apenas um ano após seu retorno, recebeu o título de Solista Emérito de Oboé e, em 2017, deixou o grupo pela segunda vez.
Atualmente morando no Canadá, Alex Klein é solista da Orquestra Filarmônica de Calgary e trabalha como professor de oboé na Universidade DePaul, em Chicago. Ao comentar sobre a apresentação desta quarta-feira, revela expectativa em subir, pela primeira vez, em um dos mais tradicionais palcos da Capital gaúcha.
— Sempre quis tocar no Theatro São Pedro, então estou esperando com muita ansiedade por esse momento.
Produção: Émerson Santos
Concerto "Adagios para Oboé"
- Nesta quarta-feira (30), às 20h, no Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/nº), em Porto Alegre
- Ingressos a partir de R$ 40, à venda no site do Theatro São Pedro.