Uma das grandes vozes do fado contemporâneo, a cantora portuguesa Carminho volta a Porto Alegre nesta quarta-feira (30). Ela se apresenta no Teatro do Bourbon Country, a partir das 21h (veja detalhes sobre ingressos ao final da entrevista).
Desta vez, a fadista vem à capital gaúcha com a turnê brasileira — que passa também por São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Ilhabela (SP) — de seu sexto álbum, Portuguesa, lançado em março. Em 14 canções, Carminho explora diferentes combinações dentro dos cânones do fado tradicional. Há uma composição de Marcelo Camelo entre as faixas, intitulada Levo o Meu Barco no Mar.
Filha da também fadista Teresa Siqueira, a cantora de 39 anos é uma das responsáveis por trazer um frescor ao ritmo português desde o final dos anos 2000, embora ela rejeite o rótulo de fado moderno. Sua ligação com a música brasileira é bastante estreita: já realizou parcerias com nomes do porte de Chico Buarque e Caetano Veloso, além de ter lançado o disco Carminho Canta Tom Jobim, em 2016.
Em entrevista a GZH, ela fala sobre o show em Porto Alegre, o novo disco e sua relação com o fado.
O que você preparou para a a nova turnê brasileira?
Sobretudo, é um concerto de fado, com muitas composições originais e olhar reflexivo para o repertório. Não é só a reprodução de standards e clássicos do gênero, mas dá continuidade a esse repertório de forma mais ativa. Estou muito entusiasmada para fazer esta turnê porque meu disco anterior, Maria (2018), teve a infelicidade de não poder ter sido tocado ao vivo no Brasil. Primeiro, foi por razões de saúde e, depois, veio a pandemia. Assim, foi aumentando minha ansiedade em voltar.
Você vem ao Brasil há um bom tempo. Porto Alegre mesmo você já visitou em outras oportunidades. Tem alguma lembrança especial daqui?
O sotaque de vocês é o mais delicioso, é o que mais gosto (risos). O que sempre senti em Porto Alegre foi uma animação, uma espontaneidade na forma que ouvem a música, de maneira muito efusiva. Me senti muito bem recebida. Me sinto mais enriquecida também por ter uma experiência mais plural do Brasil, não só do Rio ou São Paulo. É um continente, não se pode resumir a uma zona do país.
Seu disco mais recente, Portuguesa, aborda a identidade tanto do fado quanto a sua como artista. O que você buscou trabalhar mais neste disco?
É sobretudo a continuação do que sempre fiz: a prática do fado tradicional e a forma como também se pode compor e trazer novas composições dentro do estilo. Dar essa ideia de que o fado é uma língua viva, é falando e praticando que ela vai se desenvolvendo. E é muito rica porque continua tendo evolução, continua a ter o que transformar e a ter esta riqueza da exploração dentro dos cânones que já existem.
Você canta fado desde cedo. É algo que sempre esteve no seu sangue, sua vida está interligada com esse estilo musical. O fado, então, moldou a sua identidade? O que sempre a atraiu para esse estilo?
É a minha identidade, sempre foi. Comecei a ouvir fado quando estava na barriga da minha mãe. Desde pequena nós cantávamos em casa, e o fado era uma coisa transversal na minha vida. Não pensei que poderia ser profissão, tanto que até fiz um curso de marketing e publicidade. Me convidaram para gravar um disco a certa altura, mas eu senti que não fazia sentido, que eu não tinha ainda muito discurso e pensamento para expor uma peça artística. Resolvi viajar pelo mundo para entender quem eu era e o que me motivava na vida. E também para ter confiança, pois na altura que comecei a cantar o fado, era um estilo pouco querido. Ninguém da minha geração gostava, não era cool ou sexy, era visto como algo de velho. Ganhei essa confiança justamente nessa viagem, pois deparava com muitas pessoas que não conheciam fado, mas se atraíam pelo estilo quando eu partilhava. Então, voltei a Portugal e decidi que queria cantar. Isso mudou minha vida, de corpo e alma. Quando canto fado, sinto que estou na minha zona. Estou a respirar, a fazer minha fotossíntese. É uma ideia de existência contínua.
Então, havia uma incompreensão por você optar por cantar fado. Hoje em dia, como você percebe o fado sendo encarado pelas novas gerações de Portugal? Há uma renovação?
Fala-se muito nas palavras "novo" e "renovado", e eu rejeito um bocadinho essa semântica porque acredito que o fado é um linguagem viva, que está sempre em constante transformação. Existem muitas pessoas cantando fado, mas só olhando para frente é que se vai perceber o que esta geração contribuiu. Nosso papel enquanto artista é olhar para nossa geração e para nosso contexto e traduzi-lo através de um instrumento. No meu caso, é o fado. Não há um "novo fado". Ele já foi mais popular há uns anos, mas é tudo cíclico. Outros estilos musicais crescem em Portugal, mas o fado sempre terá um papel determinante, nunca vai desaparecer. É um estilo que traduz algo, que faz uma junção do que é um acontecimento social e político no momento com a alma, a memória e os sentimentos de um povo. E esse lugar é difícil de destruir, não é só uma tendência.
Carminho em "Portuguesa"
- Nesta quarta-feira (30), às 21h, no Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80), em Porto Alegre
- Ingressos a partir de R$ 90, à venda pelo site uhuu.com (com taxa) e na bilheteria do teatro (sem taxa), das 13h às 21h
- Desconto de 50% para os primeiros cem sócios do Clube do Assinante a adquirirem ingressos e de 10% para os demais