Em uma das vezes em que esteve internado por conta de problemas decorrentes de uma doença autoimune, o compositor Jerônimo Jardim escreveu Frestas, um de seus últimos trabalhos. Ele morreu nesta quinta-feira (3), aos 78 anos. A letra foi enviada à atriz e cantora Simone Rasslan e a seu marido, o músico Álvaro Rosa Costa, que musicaram e lançaram a canção no YouTube.
De acordo com Clair Jardim, 59, companheira de Jerônimo por cerca de 20 anos, o compositor fora submetido a quatro internações de maio até o momento, quando veio a falecer por insuficiência respiratória. Frestas foi escrita em junho, mas é só uma de tantas letras que ele concebeu enquanto recebia cuidados no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
— Ele escreveu várias letras, composições inteiras durante as internações. Umas boas, outras nem tanto. Mandei as letras para parceiros como o Antônio Villeroy, Leandro Maia, Simone Rasslan — conta Clair.
Frestas tem uma letra melancólica que fala sobre saudade. Para Clair, trata-se de uma música sobre o fim.
— Tem algo de despedida ali. De fim da vida — avalia.
Segundo Simone, Jerônimo enviou quatro letras ao casal, e eles escolheram Frestas. Ela compartilhou com Álvaro suas ideias do que deveria ser a música enquanto estava em Dourados, no Mato Grosso do Sul, e o marido em Porto Alegre. Ela canta e toca piano e ele, viola caipira.
— Fomos compondo assim: eu lá e ele aqui. Quase toda a música ficou com as ideias do Álvaro. É uma música bonita, sofisticada. O Jerônimo coloca a noção de saudade para além do fim da festa. Nesse momento da falta dele, podemos pensar que ele estava mesmo se despedindo. Ele estava pensando de forma muito filosófica na morte. Sobre a saída pelas frestas. É muito bonito ver um artista como o Jerônimo escrever dessa forma sobre a importância da morte em nossas vidas. Só aumenta a minha admiração por ele — diz a artista.
Letra de Frestas
A saudade existe
Não quer ser vazia
Nem só se lastima
A colheita tardia
A lágrima existe
Não para emparceirar a dor
Nem só para o final da festa
Nem só para o final
Para lamentar a perda da floresta
E revelar que pouco ainda resta
A saudade existe
Não quer ser vazia
Nem só se lastima
A colheita tardia
A lágrima existe
Não para emparceirar a dor
Nem só para o final da festa
Nem só para o final
Para evadir-se na primeira ou última fresta
Para evadir-se na primeira ou última fresta