Mostrando o comportamento da sociedade e noticiando fatos históricos na televisão aberta, o Fantástico não só conquistou espaço na memória da maioria dos brasileiros como impulsionou mudanças sociais. Celebrando 50 anos a partir deste domingo (6), o programa dominical da Globo segue ditando tendências e provocando transformações.
Novos e conhecidos quadros que serão exibidos em comemoração ao cinquentenário mostram a vontade de quebrar paradigmas. Um deles é Prazer, Renata, que levará para as telas o tema do prazer sexual feminino que Renata Ceribelli popularizou em seu podcast. Já o estreante Música Preta Brasileira irá explorar ritmos musicais criados por negros e que caíram no gosto da população.
Em coletiva realizada no estúdio de jornalismo da Globo, no Rio de Janeiro, em 31 de julho, apresentadores, colunistas e repórteres falaram sobre os valores que guiaram o programa ao longo das décadas.
— Quando o Fantástico surgiu, em 1973, tinha o privilégio de apresentar muitas coisas novas para as pessoas. Com o advento da internet, hoje nós procuramos outras formas de trazer a novidade e a relevância. Apostamos no diferente. Assim vamos navegando nesse novo mundo, mas mantendo a chama da curiosidade. Manter a inquietação é uma espécie de segredo para a longevidade do programa — contou o diretor, Bruno Bernardes.
Uma das mais recentes mudanças foi feita na estrutura do Fantástico para marcar uma virada de chave pela qual a sociedade vem passando. É a primeira vez que duas mulheres conduzem o programa — nos primórdios, houve um revezamento de diferentes apresentadores, principalmente homens, até se consolidar a dupla formada por um homem e uma mulher. Com Poliana Abritta acompanhada de Maju Coutinho, a intenção é incentivar a ascensão feminina – tanto branca quanto negra.
— É algo revolucionário. E são duas mulheres que subvertem o que as pessoas imaginam que possa ser duas mulheres na apresentação desse programa. A gente vai de mãos dadas. Uma não esconde o sapato da outra, não. Tentamos manter uma sincronia. A Poliana me recebeu muito bem quando eu cheguei — disse Maju, escalada como apresentadora em 2021.
Com 26 anos de emissora e quase nove no Fantástico, Poliana Abritta reforçou que duas apresentadoras à frente de uma das mais nobres atrações da Globo corresponde à crescente ocupação de postos de trabalho pelas mulheres. Dar as costas para esse avanço não seria condizente com o perfil do programa.
Apostamos no diferente. Assim vamos navegando nesse novo mundo, mas mantendo a chama da curiosidade. Manter a inquietação é uma espécie de segredo para a longevidade do programa
BRUNO BERNARDES
Diretor do "Fantástico"
— O Fantástico tem poros abertos. Assim ele consegue se manter atual e acompanhar as mudanças da sociedade. Nada mais simbólico, representativo e importante que ter duas mulheres na apresentação. E temos um elenco que nos dá um enorme suporte, como Sônia Bridi, Renata Ceribelli e Ana Carolina Raimundi — disse.
Todas elas irão conduzir quadros especiais, todos ainda sem data para serem exibidos, com exceção de Jornada da Vida, de Sônia Bridi, que a partir deste domingo (6) vai mostrar a situação do Pantanal após diversas queimadas nos últimos anos. Música Preta Brasileira, de Maju Coutinho e do cantor Rael, irá se aprofundar em ritmos como rap, funk, samba e sons da Bahia — neste episódio, os convidados são os cantores Gilberto Gil, Carlinhos Brown e Luedji Luna, todos negros e baianos.
Poliana Abritta vai retomar o Mulheres Fantásticas, criado em 2019. A nova temporada contará a história de mulheres cujos talentos são notórios com narração de mulheres talentosas e relacionadas a mulheres atuais. Por exemplo: a vida da compositora Chiquinha Gonzaga na voz da cantora Maria Bethânia e linkada com a vida da jornalista e escritora Socorro Acioli, autora de A Cabeça de Santo (2014). Também haverá uma homenagem a Gloria Maria, a mais "fantástica" jornalista que o Brasil já teve. Os episódios serão veiculados em setembro, outubro, novembro e dezembro.
— Já contamos a história da Frida Kahlo, da Malala. Eu sou muito apaixonada por esse quadro. De forma espontânea, escolas públicas e particulares começarem a usar os episódios em sala de aula — revelou Poliana.
Ana Carolina Raimundi irá retomar o Isso Tem Nome, que explica termos difíceis de entender em um primeiro momento, mas que representam, em sua maioria, tipos de opressões que as mulheres sofrem a partir dos homens, como gaslighting, conhecido como uma sutil manipulação psicológica.
— A gente conseguiu falar de gaslighting na TV aberta. Mansplaining, manterrupting, tudo isso — comemorou Ana Carolina durante a coletiva.
Com o sucesso de Prazer, Renata nas plataformas de áudio como Spotify, Renata Ceribelli vai transpor para a televisão, em apenas alguns episódios, o que semanalmente motiva seu podcast: a importância de as mulheres falarem sobre sexo.
— Não é um podcast filmado, ou videocast, como chamam. É um quadro sobre bem-estar sexual feminino. Um programa apresentado por duas mulheres, afinal de contas, deve prestar um serviço à saúde da mulher. E as mulheres estão querendo falar sobre sexo — disse a apresentadora.
Falando sobre saúde desde 1999, o veterano Drauzio Varella irá conduzir um quadro sobre alergias, e a estreante Sabrina Sato vai andar pelo mundo mostrando lugares inusitados, começando pela Itália.