Tina Turner teve uma representante brasileira — ao menos na dramaturgia. Em 1986, a atriz Regina Casé viveu Tina Pepper na novela Cambalacho, da Globo. A personagem imitava o visual de sua artista preferida, ícone pop na época, com o cabelo espetado e grandes brincos, e foi relembrada nesta quarta-feira (24), após o anúncio da morte da cantora norte-americana.
No Instagram, Casé, 69 anos, publicou um vídeo com montagem de fotos de Tina Turner e de Tina Pepper. Na legenda, afirmou que a personagem foi uma herança que a cantora lhe deixou.
"Tanta gente me pedindo um depoimento sobre ela significa que, quando pensam na Tina Turner, pensam em mim por causa, claro, da Tina Pepper", escreveu a atriz.
Casé também contou histórias curiosas que viveu por causa do sucesso da personagem que queria ser tão famosa quanto Tina Turner. Enquanto a novela era exibida na Globo, ela recebeu um recado da mãe de santo Menininha do Gantois, a ialorixá mais famosa do país, pedindo que a atriz fosse lhe fazer uma visita na Bahia.
"Eu fiquei morrendo de medo, achando que era alguma coisa que estava acontecendo na minha vida e ao mesmo tempo assustada assim de conhecer uma pessoa que era tão importante, tão grande para mim… Cheguei lá e falei: 'O quê que a senhora quer?' E ela me disse: 'Nada não, só queria conhecer de perto a Tina Pepper!' Rsrsrs", relatou.
Outro episódio foi quando viajou a Moçambique, na África, em 2000, sua primeira visita a um país africano. Ao desembarcar no aeroporto da capital Maputo, as pessoas gritaram para ela: "Tina! Tina! Tina!".
"E perguntei: 'Ué? Tá passando de novo (a novela)? (No) Vale a Pena Ver de Novo? E eles disseram: 'Não, é porque a Tina foi a primeira personagem negra que realmente nos representou. Nós somos apaixonados pela Tina Pepper!", relembrou Casé, e finalizou com um agradecimento a Tina Turner: "Obrigada por tudo isso que você deixou para mim. Você foi uma das mulheres mais incríveis que já passou por aqui!".
Em Cambalacho, Tina Pepper chamava-se, na verdade, Albertina Pimenta. Ela era filha de Lili Bolero (Consuelo Leandro) que, por sua vez, era uma cantora frustrada. Em entrevista recente ao programa Conversa com Bial, Casé falou que a personagem era uma inspiração para mulheres que sonhavam com a fama.
— Era um personagem muito popular, da periferia de São Paulo, e conquistou essas meninas todas que queriam ser famosas e não se viam na TV. Tenho orgulho que na ficção estou a serviço dessas pessoas e dessas ideias. Fui durante muito tempo porta-voz dessas meninas que estavam invisíveis.