Arranjador de grandes nomes da MPB, como Roberto Carlos e Elis Regina, o maestro e compositor Chiquinho de Moraes morreu no domingo (30), aos 87 anos. O músico estava internado no hospital Santa Casa de Cesário Lange, no interior de São Paulo, onde tratava de um câncer em estado avançado.
A informação foi divulgada por Otavio de Moraes, filho de Chiquinho. Na publicação divulgada em seu Facebook, o também músico explica que o pai foi vítima de covid-19. A contaminação pelo vírus ocorreu no próprio hospital.
"Apesar de viver com ele uma história dificílima na relação pai e filho, enquanto músico reconheço e destaco seu legado como maestro, arranjador e compositor. Em sua extensa carreira deixa trabalhos memoráveis, com os maiores nomes de nossa Música: Roberto Carlos, Elis Regina, Gal Costa, Edu Lobo, Milton Nascimento entre tantos e tantos outros", escreveu.
Trajetória
Nascido na cidade de Campinas, Manoel Francisco de Moraes Mello, o Chiquinho, começou sua carreira no final dos anos 1950. À época, ele tocava piano para a cantora Celly Campello em gravações que viraram clássicos, como Estúpido Cupido e Banho de Lua.
Contratado pela TV Record, passou a fazer arranjos para os programas da emissora, entre eles, O Fino da Bossa, apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues. Chiquinho ainda trabalharia com Elis em seus discos do início dos anos 1970. É dele, por exemplo, os arranjos da canção Black is Beautiful, de Marcos e Paulo Sérgio Valle.
Foi na TV Record também que se deu seu encontro com o cantor e compositor Roberto Carlos, de quem passou a ser arranjador em discos e shows. Trabalharam juntos entre os anos de 1970 e 1977. Chiquinho está na ficha técnica de discos que têm gravações como Rotina, O Show Já Terminou e A Deusa da Minha Rua.
O talento de Chiquinho também está em outras importantes gravações da música popular brasileira. Ele atuou ao lado de nomes como Edu Lobo e Chico Buarque. Para eles, fez a orquestração do álbum O Grande Circo Místico, de 1983. Neste disco, estão gravações como a de Milton Nascimento para Beatriz.
Na lista de Chiquinho ainda há outros medalhões da música brasileira, entre eles Simone, Nana Caymmi, Ivan Lins, Erasmo Carlos, Marília Medalha, Moraes Moreira e Emílio Santiago. Por esse motivo, e por sua habilidade em escrever arranjos para cordas, e, muitas vezes, salvar uma gravação, ganhou o apelido de "o herói da MPB".
Chiquinho também foi contratado da TV Globo, onde fez arranjos e compôs trilhas de abertura de programas. A certa altura da vida, decidiu viver recluso no interior de São Paulo e se afastou do meio musical. Em 2013, o repórter do jornal O Estado de S. Paulo Julio Maria conseguiu localizá-lo e bater um papo com Chiquinho.
Na época, o artista falou sobre seu começo e de como virou músico. Também contou histórias como a do dia em que chamou a cantora Simone para briga e revelou as manias do rei Roberto Carlos.
— Eu queria ser advogado, mas minha mãe falou que Direito era profissão de vagabundo. E então, depois de me ver segurando um galho de árvore para imitar um maestro que regia um grupo no coreto da minha cidade, Tietê, ela decidiu que eu seria músico — comentou na ocasião