Aos 58 anos, Jorge Drexler joga em casa quando se apresenta em Porto Alegre. Ingressos esgotados com meses de antecedência, público apaixonado e plateia participativa costumam marcar suas apresentações na capital gaúcha. É como se o músico, que nasceu em Montevidéu, tocasse em sua cidade natal. De volta ao Estado, ele realiza dois shows potencializados por esse fator local no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685 ): o primeiro neste domingo (25), às 20h, e depois na terça-feira (27), às 21h.
Com ingressos esgotados para domingo e poucas entradas restantes para terça (à venda no site Sympla, com desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e um acompanhante), Drexler volta a Porto Alegre com a turnê do disco Tinta y Tiempo, lançado em abril deste ano. No palco, ele estará acompanhado de Borja Barrueta (bateria e percussão), Meritxell Neddermann (teclados e voz), Javier Calequi (guitarra e voz), Carles "Campi" Campón (baixo e programações), Alana Sinkëy e Miryam Latrece (vozes).
Pelo que se viu nos shows anteriores da turnê, dá para projetar que as 10 faixas de Tinta y Tiempo entrem no repertório. Contudo, Drexler também apresenta músicas de outros trabalhos — como Salvapantallas, Todo se Transforma, Fusión, Asilo, Me Haces Bien, Inoportuna, Movimiento, Aquellos Tiempos, Telefonía, entre outras, além de algumas surpresas que costumam ser acrescentadas (pedidos de fãs, parcerias ou homenagens).
Mote da turnê que Drexler traz a Porto Alegre, Tinta y Tiempo foi construído em meio a uma crise de criatividade que o artista vivenciou durante a pandemia. Primeiramente, ele sentiu a necessidade de relatar como foi aquele período, os anseios e a nostalgia pela vida com contato. Porém, o músico concluiu que, no futuro, jamais iria querer cantar sobre aquelas experiências. Escolheu seguir um caminho oposto.
Em Tinta y Tiempo, Drexler buscou realizar um trabalho mais colorido e orquestrado, com variação de ritmos. Optou por celebrar a vida, refletindo sobre o amor e a arte. Algo que pode ser percebido na primeira faixa do disco, El Plan Maestro, que também tem aberto os shows da turnê. Na música, que conta com a participação do panamenho Rubén Blades, o compositor fala sobre a origem da vida, do amor e do sexo através do ponto de vista biológico.
Drexler versa sobre o amor real e complexo em Corazón Impar, propõe um recomeço da relação em Cinturón Blanco ("Rebobinar hasta aquel inicio/ Hasta el mismo precipicio por el que caímos juntos"), alerta sobre como os algoritmos controlam nossas vidas em ¡Oh, Algoritmo! ("¿Quién quiere que yo quiera lo que creo que quiero?/ Dime qué debo cantar, ¡Oh, Algoritmo!/ Sé que lo sabes mejor, incluso, ¡que yo mismo!") e faz uma ode ao desejo em Tocarte.
A "metacanção" que dá título ao álbum, Tinta y Tiempo, apresenta a zamba em sua sonoridade para contemplar o ato de compor. Segundo Drexler relatou em entrevista a GZH, a composição foi especialmente penosa nesse disco, e essa música surgiu como uma carta a si mesmo para ter paciência. O samba aparece em Amor al Arte, que enfatiza a importância da criação artística diante das leis mercadológicas, e ainda há o pop substancialmente orquestrado à la Pet Sounds de Bendito Desconcierto — parceria com o uruguaio Martín Buscaglia.
A delicada El Día que Estrenaste El Mundo celebra o nascimento de um filho ("Y tu amor se hace mucho mayor de lo que antes pensabas"), enquanto a doce Duermevela é dedicada a sua mãe, Lucero, que morreu em 2021.
Com Tinta y Tiempo, Drexler obteve nove indicações ao Grammy Latino. Para o jornal uruguaio El País, o cantor atravessa o melhor momento da carreira, e as nomeações ao prêmio o reafirmam como um "farol da música latino-americana".
Então, é um Drexler em excelente forma que volta ao Estado, para jogar de local. Aliás, sobre apresentar-se na capital gaúcha, o uruguaio declarou em entrevista a GZH, em abril, que jamais faria uma turnê sem ir a Porto Alegre.
— Tenho muitos amigos que admiro profundamente, como Vitor Ramil. Também há muitos lugares de que gosto: restaurantes, clubes e salas de concerto que aproveito para visitar. É um dos lugares onde eu tenho uma porcentagem maior de audiência em proporção à população. Me sinto muito querido e compreendido no Rio Grande do Sul — afirmou na publicação.