Era final dos anos 1990 e o pagode estava rolando no Mad Dog, um trailer de lanches ao lado do colégio IPA, na Rua Casemiro de Abreu, em Porto Alegre. Alguns amigos, dos quais boa parte se conheceu no Colégio Bom Conselho, formavam uma roda de samba para tocar Fundo de Quintal, Bezerra da Silva e Paulinho da Viola. Era o grupo Pra Ficar Legal. Entre uma cerveja e outra, a música começou a fluir mais devagar, quase parando. Então, Eduardo Pitta levantou de sua cadeira com o cavaquinho e tentou animar a roda cantarolando:
— Se ativa, Pra Ficar Legal!
Os amigos fizeram um intervalo e retomaram com outro astral. Ativos. Com a frase de Pitta na cabeça, Ricardo "Rico" Silva pegou um guardanapo e começou a elaborar mais versos. Filipe Melara levou o papel para casa e seguiu trabalhando na letra. Assim surgiu Pra Ficar Legal, hit do grupo Se Ativa, tema do sexto episódio da série Ao Pé da Letra.
Pitta descreve a noite que surgiu Pra Ficar Legal como um momento em que eles estavam apenas se divertindo, sem ter ideia do que sairia dali.
— É quando baixa o santo e vem uma coisa superlegal, que acaba marcando — pontua.
Pra Ficar Legal era como se chamava originalmente o grupo, porém havia outra banda com o mesmo nome. Logo, a encorajadora expressão "se ativa" foi adotada. Após algumas apresentações despretensiosas em churrascos, aniversários e rodas de bar, o primeiro show oficial do Se Ativa foi realizado durante a Copa do Mundo de 1998, no Dado Bier. A formação original conta com sete integrantes: Pitta (cavaquinho e voz), Rico (surdo), Filipe Melara (pandeiro e voz), André Ferreira (tantan e voz), Cristiano Balão (violão), Paulinho Silva (percussão) e Silvinho Erne (teclados).
O primeiro disco do Se Ativa saiu em 2001, embalado por Pra Ficar Legal, que batizaria o disco. A música já vinha sendo executada pelas rádios antes do lançamento do álbum. Trata-se de um cartão de visita do grupo.
— A música cita os componentes da banda, com suas características, mas promove essa alegria do samba. Para dançar e se ativar — frisa Rico.
— Acho que a grande essência da música está na espontaneidade. Não teve aquela preocupação comercial. "Ah, precisamos de mais uma música para pôr no disco!". Ou "quem vai tocar na rádio no próximo mês" — completa André.
Com o hit e o álbum, o Se Ativa se projetou para todo o Estado. Foram diversas incursões para todas as regiões do RS, anúncio do disco na TV com a música, apresentações em festivais como Planeta Atlântida. Rico lembra até hoje da primeira vez que percebeu que a banda estava sendo conhecida fora de Porto Alegre:
— Fomos jantar num restaurante em Santa Maria. Só que o Se Ativa é um grupo muito grande, além de toda uma equipe envolvida. Isso chamou a atenção de um senhor. "Quem são vocês? Um time de futebol?". Respondemos: "Somos a banda Se Ativa". E ele: "Ah, Se Ativa, pra ficar legal...". E eu pensei: "Nossa! Chegou a Santa Maria a música!" (risos).
Se Ativa lançaria mais dois discos, sendo um ao vivo, após o primeiro álbum. A banda chegaria a viver em São Paulo em duas oportunidades nos anos 2000, integrando-se à cena formada por grupos como Jeito Moleque e Inimigos da HP. Porém, aos poucos os integrantes originais deixariam o projeto para seguir outros interesses. O Se Ativa encerraria as atividades em 2012.
Mas foi na Copa do Mundo de 2014 que a banda se reativou para uma apresentação. A partir daí, o grupo passou a se reunir para shows especiais com os integrantes da primeira formação. Hoje, há quem atue em outras áreas, assim como também há quem tenha seus projetos musicais. Por exemplo, Pitta foi criando identificação com a MPB ao longo dos anos, o que pode ser percebido em seu quarto disco solo, Cartas ao Jogo, lançado em outubro. Balão e Rico têm o grupo Os Cohibanos, focado no samba e no pagode. André é presidente do bloco Filhos do Cumpadi Washington.
De qualquer maneira, a música e seu refrão que daria nome à banda passaram a acompanhá-los para o resto da vida.
— Comigo acontecia de eu ir a algum lugar e as pessoas cantarem: "Se Ativa". Inclusive, muitos me chamam assim. Quando não sabiam o meu nome, falavam: "Pô, o cara do Se Ativa". Estou passando e as pessoas gritam: "Ô, Se Ativa!" — relata Pitta.
O mesmo acontece com Rico:
— Até hoje sou lembrado por isso, inclusive na instituição financeira em que atuo. Quando entrei e descobriram meu passado, era só andar no corredor que ficavam cantarolando "Se Ativa". É uma filha que vai acompanhar para sempre.
Balão complementa:
— Serve como uma identidade nossa. Em alguns outros meios que a gente passa a conviver, volta e meia alguém ali acaba descobrindo: "Ah, ele tocava no Se Ativa", aí junta ali um grupinho e vem o refrão.
Pra Ficar Legal
(Melara / Pitta / Rico)
E a resposta de quem samba
É na ponta do pé, é na palma da mão (2x)
Se ativa pra ficar legal (5x)
De quem é esse pagode
Que deixa a galera no alto astral
Esse samba é de responsa
É o pra ficar legal
Se ativa pra ficar legal (3x)
O Melara tá na área
Com seu surdo o Rico também chegou
E a galera agitada
Reclama que o pagode já demorou
O pandeiro então os cala
Mostrando um swing bem brasileiro
E a moçada já comenta
Lá vem chegando mais cinco partideiros
Se ativa pra ficar legal (5x)
Chegou o homem do cavaco
Com o Paulinho mais um violeiro
E o balanço quando sobe
Levanta até cliente de coveiro
A rapaziada unida
Se entrega e canta com muita emoção
E quem passa na festa logo se pergunta
O que aconteceu por aqui meu irmão?
E a resposta de quem samba
É na ponta do pé, é na palma da mão (2x)
É o pra ficar legal
Esse samba só passa boa vibração
É o pra ficar legal
É o pagode bonito, é a nova geração
Se ativa pra ficar legal