Indiciado pela Polícia Civil do Ceará na última quarta-feira (29), Wesley Safadão teria se vacinado contra a covid-19 irregularmente com o imunizante da Janssen para que pudesse fazer shows nos Estados Unidos e no México, aponta o Ministério Público do Ceará. O cantor teria recebido ajuda do amigo e ex-funcionário Marcelo da Silva Matos, conhecido como "Marcelo Tchela", para se vacinar em um posto diferente do estipulado pela prefeitura de Fortaleza.
De acordo com despacho publicado na última quinta-feira (30), o amigo, ao saber da "necessidade do cantor" de se vacinar com "imunizante amplamente aceito no Exterior" se articulou com uma rede de contatos para viabilizar a vacinação.
Além de Safadão, a mulher dele, Thyane Dantas, e a produtora Sabrina Tavares também são investigadas pelo mesmo crime. Thyane também teria furado a fila da vacina. Ela tinha 30 anos e, na época, o calendário municipal de vacinação previa aplicação em pessoas com 32 anos ou mais.
Rede de contatos
Conforme o MP, no dia 8 de julho, Wesley e Sabrina tinham agendado a vacinação no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza, onde estavam sendo distribuídas doses da Astrazeneca. No mesmo dia, Marcelo entrou em contato com uma pessoa que teria contatos e influência na rede municipal de saúde do município e já havia trabalhado para ele durante uma campanha para vereador, no ano passado.
Segundo a apuração, ela teria acionado uma servidora que atuava no setor de logística da vacinação da Secretaria Regional III, onde fica o posto em que o trio se imunizou irregularmente. A servidora ligou para um terceirizado da empresa Servnac que atuava no shopping onde eles foram vacinados.
Marcelo foi ao shopping com os três e subiu com a produtora do cantor para a imunização; Thyane e Wesley ficaram no estacionamento aguardando "sinal verde". Ao recebê-lo, o casal subiu de elevador e foi encaminhado pelo funcionário terceirizado e também pelo supervisor do local. Os três não passaram pelo setor de registros, nem pelo de triagem da imunização.
Procurada pelo UOL, a assessoria de Wesley Safadão disse que ainda não teve acesso ao despacho. "Nosso departamento jurídico que cuida do caso está verificando as informações, e tão logo poderemos ter alguma resposta", declarou.
Investigações
Além da apuração do MP, o caso foi alvo de uma investigação da Polícia Civil que indiciou oito pessoas. Fora Safadão e Thyane, outros cinco responderão pelos crimes de peculato e infração de medida sanitária. Já a assessora do cantor, Sabrina Tavares, foi indiciada apenas por infração de medida sanitária. Ao todo, as penas somadas podem chegar a 13 anos de prisão.
O caso também gerou um processo administrativo na prefeitura de Fortaleza. Uma servidora pública foi identificada e deve responder pela facilitação e dois terceirizados foram devolvidos à empresa.
As investigações começaram após Thyane ser vista com Safadão, nas redes sociais, recebendo a vacina. Durante o processo, o casal negou qualquer irregularidade e alegou que ela teria sido vacinada com doses da xepa. No entanto, a prefeitura de Fortaleza descartou esta possibilidade, ressaltando que não havia aplicação dessas doses no horário em que ela foi imunizada.