Em 2 de março de 2016, a Cachorro Grande subia ao palco montado no estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, para abrir o show de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos: os Rolling Stones. E, como se não bastasse a honraria de se apresentarem no mesmo evento que o grupo britânico, os gaúchos ainda puderam conhecer os veteranos artistas nos bastidores.
Durante aquele momento único, o baterista da Cachorro Grande, Gabriel Boizinho, teve uma experiência que vai ficar eternizada em sua memória: a sua apresentação com a banda gaúcha na abertura do show foi elogiada por Charlie Watts, o lendário baterista dos Rolling Stones, que morreu nesta terça-feira (24), aos 80 anos. Além disso, o músico britânico ainda tocou a bateria de Boizinho — ambos donos de kits da marca Gretsch.
— Foi o dia mais feliz da minha vida, não só por conhecer a banda, mas por ser elogiado. O Watts ainda passou pela minha bateria, viu que era da mesma marca, sentou e começou a tocar. Eu tenho essa bateria até hoje e nunca mais vou me livrar dela, obviamente — relembra.
A Cachorro Grande, de acordo com Boizinho, inspirou-se, além dos Beatles, nos Stones. E, segundo o músico gaúcho, Watts sempre foi um dos seus bateristas preferidos. Por isso, sabia tocar as músicas da banda britânica.
— Eu não almejo tocar tantas notas por segundo ou saber milhares de técnicas. Para mim, o bom músico é aquele que dá duas notas e tu sabe que é ele. O Charlie Watts é assim. Eu escuto duas baquetadas no tambor e eu sei que é ele. E isso é o máximo a que o músico pode chegar, a identidade — destaca. — Ele já foi um vencedor há 40 anos por estar vivo. Imagina sobreviver até hoje. Quando conheci ele, era um senhorzinho, parecia de algodão. Era uma pessoa fragilizada, um tiozinho. E, mesmo assim, ele não perdia a maneira como tocava, porque aguentar um show de duas, três horas é bem difícil — conta Boizinho.
De acordo com o músico gaúcho, uma das lições de Watts é o fato de que, após um período submerso em substâncias ilícitas, ele conseguiu se livrar do vício. Boizinho conta que este é um processo pelo qual também está passando e que é possível fazer rock sem precisar estar ligado às drogas, mantendo a qualidade do som e sem ser "careta".
— É uma grande perda para o mundo, mas o que importa é a obra. E o trabalho dele com os Rolling Stones vai ficar, assim como a obra dele na carreira solo, tocando jazz, vai ficar. Então, o Charlie Watts para sempre vai ficar com a gente — finaliza o baterista.